terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

28ª Jornada - BENE-JAACÃ


Jornada 28

BENE-JAACÃ [1]

“E partiram de Moserote, e acamparam-se em Bene-Jaacã”.
                                                                                                                                 Números 33:31
Filhos da inteligência
         Vamos ao livro de Números 33:31: “E partiram de Moserote, e acamparam-se em Bene-Jaacã”. Esta jornada como as imediatamente anteriores e as imediatamente posteriores, pertencem também à seção que corresponde aos anciãos e à transição para uma nova geração, que são as experiências na peregrinação do povo de Israel. As primeiras seções, as primeiras jornadas, correspondem aos filhinhos; as seguintes aos jovens, as seguintes aos pais e estas a partir de Hasmona correspondem aos anciãos e à transição para uma nova geração; estamos vendo que cada uma destas jornadas tem algo a ver com a experiência dos anciãos e também com as pessoas que começam a ocupar o lugar que os anciãos vão deixando; e também estas são jornadas progressivas; ou seja, que uma se aperfeiçoa com a outra, a seguinte aperfeiçoa a anterior; então esta jornada Bene-Jaacã é um passo para adiante depois da jornada de Moserote. A jornada de Moserote é muito linda, se podemos captar seu sentido, mas esta jornada de Bene-Jaacã é um passo mais além, inclusive ao de Moserote. Outro verso e vamos lê-lo de uma vez que esta relacionado a Bene-Jaacã, se encontra naquele parêntese que está no meio do discurso de Moisés em Moabe, recordando o que o Senhor lhes revelou ali no monte Sinai, como o Senhor o olhou e não destruiu ao povo senão que continuou com os levitas e os atravessou por todo o deserto.
         Então em Deuteronômio 10:6, é onde se menciona Bene-Jaacã; ali diz: “E partiram os filhos de Israel de Beerote-Bene-Jaacã a Moserá...”. Como já estudamos o relativo a Moserá, porque aparece aqui Moserá depois de Bene-Jaacã e antes aparece antes de Bene-Jaacã, porque houve uma antecipação, eles passaram primeiro por um lugar e se lhes antecipou o que havia de vir, logo passaram de volta e sucedeu o que havia sido antecipado; mas quis que lêssemos Deuteronômio também juntamente com Números para completar o nome do lugar. Em Números 33:31 diz Bene-Jaacã, mas em Deuteronômio 10:6 o nome está mais completo, Beerote-Bene-Jaacã. Nesta jornada, como nenhuma outra coisa mais nos diz o Antigo testamento, senão somente o nome e logicamente sua localização em uma sucessão, e essa sucessão também é uma porção já relativa às jornadas mais avançadas, ou seja, às pessoas que tem ido caminhando com o Senhor e ao povo do Senhor que tem ido crescendo e amadurecendo, então o significado desta palavra é sumamente importante. Bene-Jaacã e Beerote-Bene-Jaacã. Em primeiro lugar vamos determinar a localização geográfica porque o Senhor, é curioso, utiliza os detalhes históricos e geográficos para projetar profecia.
         Então se vocês vem comigo, vamos encontrar quem é esse Jaacã do qual se fala como filhos de Jaacã. Bene-Jaacã quer dizer filhos da inteligência. Mas indaguemos sobre este Jaacã. Vamos ver primeiramente Gênesis capítulo 36, vocês veem no versículo 27, no contexto dos filhos de Seir horeu que fala dos filhos de Ezer, um dos descendentes de Seir. Recordem-se que esta jornada é outra das jornadas ao redor do monte de Seir; então Seir era o patriarca do horeus que moravam nesse monte que depois se uniram aos edomitas, então se vocês veem o 36:20,21, diz: “²⁰Estes são os filhos de Seir, horeu, moradores daquela terra: Lotã, Sobal, Zibeão e Aná, ²¹Disom, Eser e Disã; estes são os príncipes dos horeus, filhos de Seir, na terra de Edom”. Agora passamos ao versículo 27: “Estes são os filhos de Eser: Bilã, Zaavã e Acã”. Este Acã é o mesmo Jaacã. Vamos ver esta mesma genealogia reproduzida no capítulo 1 de 1 Crônicas; ali vamos encontrá-lo de novo; vocês podem ver desde o versículo 38, que diz: “E os filhos de Seir: Lotã, Sobal, Zibeão, Aná, Disom, Eser e Disã.”; logo no versículo 42 diz: “os filhos de Eser: Bilã, Zaavã e Jaacã;...”; de modo que identifica-se Acã com Jaacã. Aquele a quem em Gênesis se chama simplesmente Acã, em Crônicas se chama Jaacã como filho de Eser, ou seja, neto de Seir; quer dizer, que essa região do monte de Seir correspondeu a este neto de Seir que se chamou Jaacã, e então os filhos de Israel em suas jornadas chegaram e acamparam em Beerote-Bene-Jaacã, porque Jaacã teve vários filhos. Então na região do monte de Seir que eles estavam percorrendo, chegaram a um ponto que era o ponto dos filhos de Jaacã, que era horeu, neto de Seir, que dá o nome a toda essa cordilheira montanhosa; e a palavra que aparece em Deuteronômio 10 como Beerote, Beerote-Bene-Jaacã, a palavra “beerote” significa poços de água ou mananciais; ou seja, a palavra Beerote-Bene-Jaacã significa os poços ou mananciais dos filhos de Jaacã ou de inteligência. É muito interessante que esse é o nome, o sentido dessa palavra, dessa jornada. Beerote, poços; Bene, filhos; Jaacã, inteligência.
Discipulado
         Neste contexto da etapa de transição e as jornadas de transição dos anciãos e de uma geração velha a uma geração nova, poderíamos dizer que a palavra chave é: discipulado; isso é o que quer significar com filhos da inteligência e poços dos filhos da inteligência, olhando já não só no seu sentido geográfico histórico, senão o seu significado espiritual. Em Moserote, eles haviam percebido,  os anciãos. Vimos o exemplo de Arão, onde estava antecipando-se a sua morte, que ele mesmo depois morreu nesse lugar; mas primeiro passou por aí; quer dizer, como se Deus houvesse dado uma antecipação do que haveria de ser sua morte; então depois ele morreu nesse lugar, mas passou uma vez primeiro por aí. Assim também Deus disse por exemplo a Pedro, que quando for velho outro te levará; e logo Pedro diz: agora, eu sei que em breve devo abandonar meu corpo como meu Senhor me tem dito; então ele estava sendo levado para negar-se a si mesmo; porque para ali é aonde nos conduz o Senhor com um jugo, que isso é o que quer dizer Moserote: conjuntas, ser prisioneiros de Cristo, ser conduzidos cada vez mais à morte de nós mesmos, e por sua vez preparar a nova geração, que é a que vai herdar a continuidade do trabalho do Senhor. Nunca devemos fazer um trabalho centrado em nós mesmos, porque nós não trabalhamos para nós mesmos; nós trabalhamos para o Senhor; então Moserote nos mostra como aqueles anciãos deviam, deixar precedentes claros para as gerações vindouras; e por isso dizia Pedro: Com diligência procurei fazer com que vocês tivessem sempre memória destas coisas.[2]
         Mas digamos que o nível de Moserote é diferente do nível de Bene-Jaacã no seguinte: Em Moserote o que se deixa a geração que se segue é um depósito, é um ensino, é uma verdade, é um testemunho, é uma doutrina, são precedentes claros; ou seja, os anciãos tem que deixar precedentes claros e partir em paz havendo deixado as coisas claras; as águas cristalinas para as ovelhas que vem atrás, os pastos verdes para as ovelhinhas que vem atrás; mas não deve deixar somente testemunho; não deve deixar somente ensino; não tem que deixar somente um depósito; não tem que deixar somente um precedente; isso não é suficiente; tem que ir um passo mais além. O Senhor quer que deixemos filhos, que deixemos discípulos; o Senhor não quer que somente ensinemos; o do ensinamento poderíamos encontrá-lo em Marcos 16 “¹⁵E disse-lhes: Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura. ¹⁶Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. Aí vemos esse nível de ensino; de deixar ensinamentos claros, doutrinas claras, precedentes claros, pôr os pontos nos “is”, cada coisa em seu lugar; ordenar a casa esse é um assunto; mas o Senhor não disse só isso. Isso o registrou Marcos, mas Mateus, que era um dos doze apóstolos, captou a outra frase que Marcos não disse: “¹⁹Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ²⁰Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”. (Mateus 28:19-20) Quer dizer que o Senhor quer que os seus não somente ensinem e deixem verdades e deixem gravações e deixem escritos; o Senhor quer que deixemos discípulos; isso é algo mais que ensinamento. Algumas vezes chegamos somente até deixar verdades, mas não deixamos discípulos.
         O irmão Watchman Nee dá um exemplo importante; ele dizia: Uma velinha antes que se apague tem que acender outra dez velinhas, para que quando ela se apague, a luz não se apague, senão que a luz se multiplique; ou seja, antes que a vela se apague, com a luz dessa vela tem que acender outras velas para que quando se apague esta vela, as outras estejam recém acesas e por sua vez essas tem que acender outras velas, e assim sempre haverá luz. Se nós levamos as verdades à tumba, se não deixamos precedentes claros, o Senhor vai ter que voltar a ensinar as lições que Ele já ensinou a outros filhos Seus; então Ele quer que cada um de seus servos trabalhe para que haja continuidade, deixando precedentes claros, contudo deixando discípulos. O que o Senhor falou foi: Fazei discípulos; e a palavra discípulos é uma palavra mais avançada que a palavra aluno. Digamos que aluno está num nível de Moserote, mas discípulos está num nível de Bene-Jaacã.
         Irmãos às vezes nós tomamos as coisas de uma maneira superficial, digamos, de uma maneira didática; podemos deixar uma instrução, um seminário, um instituto, um pensamento, um currículo e podemos ter alunos e ensinar teologia a esses alunos. Isso é bom, mas não é suficiente; observem que às vezes um seminário, um instituto, uma escola, pode chegar a cair em mãos de professores que vivem do ensino da teologia, do hebraico, da gramática, inclusive da crítica, da exegese; mas isso não é o nível que Deus quer para seus servos. Há servos do Senhor, mestres do Senhor que chegam até esse nível e avançam e ensinam e deixam ensinamentos, deixam livros, deixam gravações, deixam conferências e deixam instruções, mas logo estas instruções caem em mãos de outras pessoas que não foram formadas. Digamos que Moserote chega até o nível de informação, mas Bene-Jaacã chega ao nível de formação. Deus não quer que deixemos somente precedentes, senão que deixemos pessoas discipuladas a Cristo; é muito fácil e é mais fácil ser professor que fazer discípulos, porque o professor pode dizer a cadeira; alguém pode aprender algo, ler algo e pode repeti-lo; começa tal hora, termina tal hora, é uma questão didática, é como um trabalho; há professor de qualquer coisa e ninguém conhece a sua vida privada, nem se mete nela; mas o Senhor Jesus não foi deste tipo de professor. O Senhor não foi só um professor; Ele foi um Mestre modelo de vida, Ele fez outros discípulos; então essa palavra: Bene-Jaacã, filhos da sabedoria, apresenta o nível do discipulado; os anciãos não só tem que deixar precedentes claros, doutrinas claras, ensinamentos claros, escritos claros, senão que tem que formar discípulos.
O testamento de Paulo
         Eu quero que olhemos alguns versos do novo testamento, aparte do que já temos aludido, onde este verso possa nos servir um pouco. Um verso que costumo usar muito é o da segunda a Timóteo. Por que me agrada tanto segunda Timóteo? É que segunda Timóteo é o testamento de Paulo. Paulo era um ancião que está a ponto de morrer; Paulo está dizendo-lhe praticamente: tenho acabado a carreira, tenho guardado a fé, o Deus de justiça me tem preparado uma coroa de justiça, em fim; mas então ele agora está preocupado com Timóteo; agora o importante é Timóteo. Paulo vai-se, Paulo já terminou sua carreira, mas Paulo não está se importando somente em receber a sua coroa, porque não lhe importa só a sua coroa, lhe importa a coroa do Senhor, o reino do Senhor; ele está interessado em que quando vai receber sua coroa, o reino do Senhor continue. Assim como Abrão tomou provisões para que Isaque recebesse a herança e não misturasse essa herança com os outros, o mesmo está fazendo Paulo com Timóteo; está fazendo um discipulado com Timóteo. De maneira que eu gostaria que olhássemos uns versos desta epístola, que é como se fosse um testamento de Paulo e olhemos algumas frases; valeria a pena lê-lo todo, mas pelo tempo não podemos; mas vamos olhar alguns versos.
         Em primeiro lugar, uma das coisas que Paulo repete várias vezes a Timóteo é o das aflições; lhe diz várias vezes. Por exemplo no verso 1:8 diz: “Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho ...”; ou seja, se tens dado testemunho, mas digamos que o testemunho é deixar um precedente claro; não é que levo a verdade e a levo sozinho; dá testemunho, mas não só tem que dar um testemunho. O testemunho que fala do capítulo 1 é desse nível de testemunho de deixar precedentes claros. Agora diz: “... participa das aflições...”, logo no verso 13 lhe diz: “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus”. Então aí segue nesse nível de testemunho: “conserva o modelo das sãs palavras...”; logo passa ao verso 14: “Guarda o bom depósito...”. Tudo isso pertence ao nível de Moserote, deixar com diligência testemunho e precedente claro para as gerações que se seguem. Tudo isso: testemunho, conserva o modelo das sãs palavras, guarda o bom depósito, até aqui é esse primeiro nível, mas o seguinte nível passa no seguinte capítulo.
         No capítulo 2: “¹Tu, pois, (esse pois é havendo tido em conta este primeiro assunto; quer dizer, pois, posto que tenhas entendido nessa parte, recorda filho meu, Bene-Jaacã, filho da inteligência) meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. ²E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-os a homens fiéis,...”. Não é suficiente, Timóteo, que tu creias; além de crer, deves testificar, mas não é suficiente teu testemunho, Timóteo; você tem que preparar o testemunho de outros, você tem que preparar a outros para a continuidade do testemunho, quando você já não estiver; eu me vou, mas estou te encarregando, mas você tem que encarregar a outros, a homens fiéis, e esses homens fiéis tem que ser idôneos para ensinar também a outros. Tem que haver pessoas discipuladas que continuem o trabalho. É triste que a pessoa se vá e leve tudo para a tumba e tudo se acaba; esse trabalho não é suficiente; tem que avançar desse nível. Não somente tem que evangelizar; também tem que dar testemunho e tem que discipular e tem que entregar aos discípulos tudo, tudo o que você puder.
         Agora volta Paulo e lhe diz: “³Sofre, pois, (outra vez) comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”. Aqui lhe menciona várias coisas, mas gostaria que deixássemos estas coisas para considerar um pouco mais adiante. Estejamos considerando pelo menos este nível, de testemunho primeiro e discipulado depois. Depois voltaremos aqui, mas passemos um pouco mais adiante no capítulo 2: “²²Foge também das paixões da mocidade, e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. Olhem o que está fazendo Paulo com Timóteo, o mesmo que fez Abraão com Isaque. Aos demais filhos lhes deu presentes, mas a linha de Deus era com Isaque; e ele investiu tudo em Isaque e o separou dos demais para que não houvesse mistura, para que não ficassem indefinições, senão que as coisas ficassem claras; e o mesmo está acontecendo aqui. Há muitas coisas, Timóteo, o mundo religioso, há muitas correntes, muitos assuntos, mas eu te estou encarregando isto, Timóteo: Foge, foge destas coisas e entra nestas outras; aqui é onde tens que estar, na justiça, na fé, no amor, na paz, com os que de coração puro invocam ao Senhor. Agora, e os que não são de coração puro, que tem de fazer com eles? Bem, aí vem o capítulo 3. “¹Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. ²Porque haverá homens ...”. assim, assim, assim; e chega ao versículo 5: “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. (que se faz com estes?) Destes afasta-te”. O que fez Abraão com Isaque, está fazendo Paulo com Timóteo. Evita misturar-se com pessoas que estão com os corações impuros, que estejam fazendo mercadoria do Evangelho, que estejam fazendo mercadoria da verdade; Deus os há de julgar, não te mistures aí, mantenha distância; mas com os que de coração puro de verdade invocam a Deus, com esses anda, segue a verdade, segue a fé, segue a justiça, com os que de coração puro invocam o Senhor. Aparta-te, mantém distância daqueles que fazem mercadoria da verdade. Paulo aqui está dando uma informação clara que ele mesmo havia aprendido em seu caminho. Não é verdade? Então, aí nos damos conta da formação do discipulado que está fazendo Paulo.
Testemunho do mestre
         Agora olhemos o relativo aos poços. Vamos voltar a Timóteo, mas vamos primeiro a 2ª Coríntios 3. Aqui Paulo nos mostra como é este assunto do discipulado: “¹Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de carta de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?” Claro, Paulo era o que evangelizava aos Coríntios e aos de Acaia; depois, bem, passou por ali nosso irmão Apolo e lhe deram carta para que fosse e o recebessem; mas ele não era conhecido, e por isso os que o conheciam tinham que escrever cartas recomendando-lhe; mas Paulo está dizendo: mas vocês sabem que nós mesmos não necessitamos, que outros nos recomendem, para chegar até vocês; vocês nos conhecem, vocês chegaram a ser o que são agora, pelo que nós fomos entre vocês, por isso nós não necessitamos que outros nos recomendem a vocês; nossas credenciais não são as cartas que outros escrevem a favor de nós; nossas credencias são vocês. O que Deus tem estado fazendo com vocês desde que nos conhecemos, essas são nossas credenciais. Então diz Paulo: “²Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens”. Aqui já passa do nível de cartas escritas em papel, ao nível de discipulado.
         O mesmo faz João. Passemos a segunda e terceira de João. Essas duas pequenas cartinhas as termina de maneira muito similar. Na segunda carta de João verso 12, diz João assim: “Tendo muito que escrever-vos,...”. João tinha muito que escrever, por quê? Porque tem que deixar as coisas claras; tem que falar. Diz o Senhor a Ezequiel: ao menos saberão que houve profeta em Israel. Tem que deixar as coisas escritas, mas João confia mais em escrever em seus discípulos; por isso diz: Tendo muito que escrever-vos, “... não quis fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar face a face, para que o nosso gozo seja cumprido”. Isso é passar de Moserote a Bene-Jaacã. Não quero só deixar escritos; o que quero é falar bem claro com vocês; vai ser mais útil que falemos cara a cara, bem francamente; isso vai produzir um efeito maior que se eu te deixo uma carta. Claro, graças a Deus por estas cartas. Que teria sido de nós sem estas cartas; mas o Senhor não quer só bibliotecas; Ele não quer bibliotecas no céu, Ele quer filhos, Ele quer discípulos seus no céu.
         Na terceira carta de João diz o mesmo a Gaio; verso 13: “Tinha muito que escrever, mas não quero escrever-te com tinta e pena”. Sim as quero escrever, mas as quero escrever de outra maneira, como se escrevem as coisas neste novo nível, o nível de deixar as coisas claras; que tenhais memória. Esse é um nível importante, mas há outro nível maior, uma etapa posterior um avanço de Moserote a Bene-Jaacã.
         Agora voltemos a 2 Coríntios 3:2: “Vós sois a nossa carta,...”. Veem? Por isso não vou escrever em papel; ainda que diz: agora vou escrever em ti com o Espírito; ou seja, olha, o que para mim é mais importante não é o papel. É como se João dissera: Não é que tu tenhas uma carta minha, e enquadres e diga: Ai! Nos recordamos assim é, e aqui está escrito, não; o que me importa é que você ande no mesmo Espírito em que eu tenho andado, que tenhas a mesma retidão que eu tenho tido, que tenhas o mesmo propósito, a mesma conduta; que não ande fazendo as coisas de outra maneira; isso é o importante, que mais pessoas sejam como o Senhor quer que sejamos. Por isso o Senhor Jesus disse assim: “Nisso é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos”. (João 15:8) Também por isso diz Paulo: “Vós sois a nossa carta,...”; ou seja, estas credenciais “escritas”, já não em papel; claro que há cartas em papel também, mas diz “... escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens”. Todas as pessoas que vejam vocês viverem, como você atuam em seus trabalhos, em suas casas, em suas coisas, vão se dar conta que vocês são pessoas retas, são gente que ama, gente que anda com Deus; qualquer um pode ler essa carta; vocês são nossas credenciais. Por isso diz que quando ouviam a João, a Pedro, reconheciam que haviam andado com o Senhor Jesus; ou seja, eles eram as cartas do Senhor Jesus. O Senhor Jesus não escreveu cartas a mão, mas que cartas escreveu o Senhor Jesus! Os reconheciam que haviam andado com o Senhor Jesus, por quê? Porque andavam em um caminho reto.
         “... conhecida e lida por todos os homens. ³Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, (porque somos discípulo de Cristo, mas) ministrada por nós,...”. Por isso é que nos manda fazer discípulos; ou seja, fazer discípulos é expedir cartas vivas para que os homens leiam, mas estas cartas são de Cristo; não fazemos discípulos para nós; não somos nós o modelo; o modelo é o Senhor Jesus. Fazemos discípulos para o Senhor Jesus, imitamos ao máximo ao Senhor Jesus. Paulo dizia: Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo. O fundamental é que haja pessoas que continuem nos passos do Senhor Jesus Cristo na terra; de nada nos serviria ter bibliotecas cheias se não há pessoas que caminhem nos passos de Cristo. Então por isso diz: “Vós sois a nossa carta,...”, amém? E diz: “... sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta,...”. Por isso espero não escrever com papel, com pena e tinta; então com que? “... mas com o Espírito do Deus vivo,  não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração”. Agora, isso é coisa séria, mas Paulo diz: “⁴E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; ⁵Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; (por isso era a confiança) mas a nossa capacidade vem de Deus, ⁶O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”. Tem que passar de deixar letras escritas para a obra do Espírito.
Perseverança na fé
         Agora voltemos a segunda carta a Timóteo e vamos ver de que maneira Paulo falava aqui a Timóteo. No capítulo 3:10 Paulo diz a Timóteo: “Tu, porém,...” este porém é olhe, nos últimos tempos vai haver gente assim, assim, assim; evita a estes e anda com os que andem de verdade invocando de coração puro o nome do Senhor Jesus; anda com estes, evita aqueles; não te mistures, não deixes que as coisas se misturem; estamos em um combate e a luz tem que prevalecer. Então agora vai dizer como são os tempos do fim, inclusive com aparência de piedade, e tem que guardar distância. E na continuação lhe diz: “¹⁰Tu, porém, tem seguido a minha doutrina,...”. Esse é o primeiro nível, minha doutrina; aí está o ensino, conserva o modelo das sãs palavras; aí está, guarda o bom depósito; espero que tenhais memória sempre destas coisas; sempre estarei falando do mesmo: minha doutrina. Em Atos diz: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos...”; mas esse é Moserote; mas o que se segue depois da doutrina? “... tens seguido a minha doutrina, modo de viver,...”; você tem visto como tenho me conduzido; não somente as palavras que tenho dito, a maneira como tenho ensinado; não me interessa que se recorde da minha eloquência; me interessa que se recorde da minha retidão, em que espírito tenho andado. Isso é passar de alunos a discípulos; então diz: “... modo de viver, intenção,...”. Com que motivos se fazem as coisas; tem muitas coisas religiosas que se fazem no mundo religioso mas se faz por vanglória, se faz por rivalidade, se faz por inveja, se faz por pretexto; não se faz com motivos puros para Cristo; mas tu me conheces de perto. Continua dizendo: “... tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, ¹¹Perseguições e aflições...”. E aí ele dá exemplo de alguns de suas aflições.
         Agora, olhem o que diz no capítulo 4: “⁵Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério. ⁶Porque eu (aqui Paulo já está partindo) já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo”. Ocorre como Arão, já vai morrer, vai deixar o sacerdócio a Eleazar, não é verdade? Agora Paulo vai partir e vai deixar Timóteo; ou seja,  Moserote. Partiram de Moserote e acamparam-se em Bene-Jaacã. “... já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, (outra vez) faz a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério. Porque eu...”, já termino aqui e agora cabe a você dar continuidade. Paulo poderia ter dito: Bem, me vou e não importa; como que não importa? Porque Paulo não pensava nele; Paulo pensava nos demais e sobre tudo no Senhor Jesus. Eu já me vou, então você, Timóteo, sê sóbrio, suporta. Notem que Paulo passa do nível só de ensinamento didático, que poderíamos dizer informação, à formação; mas não pode ele formar se ele mesmo não é exemplo. Alguém pode informar ainda sendo um ateu, um ateu pode aprender uma aula de teologia e pode ser contratado por uma universidade e dar um curso de hebraico ou pode dar até um curso de teologia dogmática; mas ele quem é? Ele não pode fazer discípulo para o Senhor; ele pode ditar uma aula e essa aula pode ser ortodoxa, mas será que essa pessoa vai levar gente perdida à salvação em Cristo e salvos imaturos a salvos maduros, e salvos soltos a salvos conectados no corpo e comprometidos com o propósito de Deus? Esse é o objetivo; assim que os precedentes que devemos deixar devem penetrar em uma etapa mais profunda. Daí estas palavras que estamos vendo ali, amém irmãos?
A verdadeira inteligência
         Agora voltemos a segunda carta de Timóteo capítulo 2, porque no capítulo 2 havíamos visto que fala dos filhos da inteligência. Quando eu estudava psicologia na Universidade Nacional, uma das matérias em psicologia 1 era estudar a alma, porque psicologia é o estudo da alma, da psique, e uma das partes da psique é a inteligência; pois para vocês vai parecer estranho, mas, irmãos, as escolas de psicologia não sabiam colocar-se de acordo acerca do que é inteligência; não entendem o que é inteligência; inclusive vai lhes parecer curioso que a melhor forma de expressão que se usava na universidade para definir inteligência é: inteligência é o que mede os testes de inteligência. Parecia uma contradição, mas eu o estudei ali na Universidade; mas ali na Universidade foi quando comecei a ler a Bíblia e que tinha frescas em minha mente essas questões; e resulta que me encontrei na Bíblia com um versículo onde Deus diz qual é a verdadeira inteligência. Deus diz: O apartar-se do mal é a inteligência. Se a pessoa é inteligente para roubar, astuto para fazer armadilha, essa pessoa é um bobo, porque está investindo seu tempo em fazer armadilha, está pondo laço à sua própria alma, vai viver fugindo; esse é um bobo, esse não é um inteligente, esse é um bruto. Mas diz a Bíblia: o apartar-se do mal é a inteligência. Então quando diz: Filhos da inteligência, não é gente sábia mentalmente, intelectualmente, nesse sentido da mentalidade; claro que Deus nos deu também intelecto, e isso é parte, e na formação temos que também nos ocuparmos disso; mas o essencial é a pessoa íntegra e o caráter da pessoa. Por isso essa parte diz ali: o apartar-se do mal, essa é a inteligência, filhos da inteligência. Mas não só a estação ou a jornada se chama Bene-Jaacã, senão Berote-Bene-Jaacã, ou seja, poços dos filhos da inteligência; quer dizer, Israel, o povo, bebeu, saciou-se nesses poços. Chega um momento em que esses discípulos tem que servir para que o povo de Deus beba, o povo de Deus beba e sacie sua sede. Os poços dos filhos de Jaacã são para que ali o povo possa beber; eles acamparam nesse lugar porque ali havia água para beber. Então vamos distinguir espiritualmente esses poços.
         Voltemos pois a segunda carta a Timóteo, agora sim capítulo 2. Havíamos lido o verso 2: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis,...”, mas Berote-Bene-Jaacã, os poços dos filhos da inteligência estão aqui. No verso 7 deste mesmo capítulo, Paulo diz: “Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo”. Notem, aqui há três: O Senhor, é o que dá entendimento; mas Paulo é o que diz, mas você é o que considera. Considera o que digo, e o Senhor te dará entendimento em tudo. Agora, o que é que diz Paulo? Ele acaba de dizer algo curioso aqui. Nos versículos 3, 4 e 5 acaba de mencionar algo que esses filhos da inteligência deviam considerar: “³Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”. Aqui passou de mera teoria a sofrer aflições; nesta carta ele diz que sofre aflições; ele diz no verso 9: “Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor;...”. Paulo sofre aflições ainda como malfeitor; ele foi acusado diante dos tribunais e teve que defender-se; e aqui diz: todos me abandonaram, ninguém esteve comigo quando estive nos tribunais, mas o Senhor me livrou da boca dos leões; ou seja que lhe coube passar por umas aflições difíceis; mas agora o que está dizendo a Timóteo? Timóteo: Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições, padecimentos; todos os que querem viver piedosamente em Cristo, padeceram perseguições.
Disposição para sofrer
         Vemos que a primeira coisa que está ensinando é a disposição para sofrer; se não há disposição para sofrer, não há discipulado; tem pessoas que não se enquadram na obra do Senhor, por medo de sofrer, porque não atuam como soldado; mas Paulo foi um soldado, então podia ajudar aos outros serem soldados. Como alguém vai treinar soldados se primeiro não é um soldado? Como uma borboletinha vai treinar soldados? Então diz: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. ⁴Ninguém que milita (volta a usar a palavra milícia) se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para guerra”. Primeiro é soldado, e é soldado para passar aflições, é soldado; é guerra, estamos em uma guerra, é uma milícia; não estamos de férias, não estamos numa reunião para bater papo, estamos em guerra; então um soldado é alguém que está disposto a colocar sua vida por sua pátria; e agora o que se segue é: “... se embaraça com negócios desta vida,...”; ou seja, é uma pessoa que tem que estar disponível para o Senhor, disposta a sofrer, e disponível para ser usada por Deus. Disponível. Às vezes não fazemos o que deveríamos fazer por não estar disponíveis; ou seja, por estar enredado. Logo lhe diz o seguinte ponto: “⁵E, se alguém (tudo isso já tem a ver com caráter) também milita, não é coroado se não militar legitimamente”. Que importante é isso da luta legítima; porque quão fácil é tomar as coisas religiosas como modus vivendi, trapaceando, incrementando a Palavra de Deus, falsificando; e o Senhor diz que no final se saberá quem de verdade servia a Deus e quem não. Vocês sabem que as pessoas que querem tirar proveito de outros são muito diplomáticos. Isso diz a Escritura: bajulando as pessoas para tirar proveito; muita gente se move no ambiente da religião em um espírito incorreto, não no espírito correto. Paulo se moveu em um espírito correto e queria que Timóteo andasse no mesmo espírito; e por isso lhe diz: O lutador, o atleta, ou seja, o que luta como atleta, é um lutador, “... não é coroado se não militar legitimamente.”; quer dizer, se não cumpre a regra, se anda fazendo armadilha, como vai ser coroado? Tudo isso tem a ver com caráter; quando ninguém te vê na terra; mas Deus e muitas testemunhas estão te vendo no céu, aí é onde temos que ser vitoriosos, amém, irmãos? Ser pessoas legais, não legalistas; leais e retas. “⁶O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos”. Hoje em dia, o que se quer é trabalhar depois. Quando já tenho os frutos assegurados, então trabalho; mas Paulo diz a Timóteo: Se queres colher frutos, tens primeiro que trabalhar, e o fruto do teu trabalho te dará frutos. Então para mim, irmãos, estes são como poços, porque esta é como fonte de água onde está sendo guiada a pessoa a conformar-se com Cristo. Cristo é o verdadeiro poço, o Espírito é o verdadeiro poço. Paulo diz em outra parte; Tu tens seguido meu espírito; não é o de Paulo, senão que tem andado no mesmo espírito de Paulo, assim como João Batista andou no espírito de Elias. Não é uma reencarnação de Elias, não; é que andou nos mesmos passos, com a mesma atitude de Elias. Então, irmãos, Beerote-Bene-Jaacã, são os poços, ou seja, o fluir, as correntes, o espírito dos discípulos, os filhos da inteligência, os que se apartam do mal.
         Creio que esta jornada é muito formosa, nobre, aprazível; é um desafio tremendo. Não se trata de fazer colégios, não se trata de matricular alunos e cobrar matricula; se trata de fazer discípulos. É um desafio muito grande; é muito fácil ficar pelas bordas, mas temos que estar onde realmente Deus quer nos levar; não enganar-nos, nem enganar. Obrigado, irmãos.


[1] Ensino à igreja na localidade de Teusaquillo, Bogotá D. C., Colômbia, 15 de dezembro de 2000.

[2] Referência a 2 Pedro 3:2


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