sexta-feira, 18 de março de 2022

37ª Jornada - OBOTE

Jornada 37

 

O  B  O  T  E

 

“E partiram de Punom, e acamparam-se em Obote”.

                                                                                                                                 Números 33:43

A pista do nome e localização

        Continuaremos, irmãos, com a ajuda do Senhor, a série sobre O Livro das Jornadas. Estamos chegando hoje a Obote. Diz Números 33:43: “E partiram de Punom, a acamparam-se em Obote”. Obote é o nome do lugar onde houve esta seguinte jornada. Cada jornada é uma jornada de avanço em relação às jornadas anteriores. Certamente, às vezes as jornadas são tão gloriosas como Punom, onde vemos a graça do Senhor para resolver nossa condição terrível; no entanto, o Senhor quer nos ensinar a aprofundar nessa experiência, e por isso há uma saída de Punom, que não é uma saída de Cristo, senão um aprofundamento. Quase se diz o mesmo em Números 21:10: “Então os filhos de Israel partiram, e alojaram-se em Obote”. Somente estes dois versículos nos mencionam a passagem por Obote; não há nenhum outro versículo onde se mencione Obote, senão em Números 33:43 e 21:10.

        De modo que, primeiro: Necessitamos ver o significado em hebraico da palavra Obote; segundo: Necessitamos ver também a localização de Obote depois de Punom, no contexto das demais jornadas. O Senhor deixou essa pista porque essa pista tem sua importância, é porque esta pista é suficiente, é porque com a pista que Ele nos dá seguramente que chegaremos à lição; porque Ele não vai dar pistas para deixar-nos às escondidas. Quando Deus dá uma pista é para que sejamos conduzidos por ela as lições que estão na Bíblia. Como temos lido na primeira carta aos Coríntios, as coisas que se escreveram antes, são para nosso ensino e não para nossa confusão. Para nosso ensino se escreveram e estão escritas para admoestarmos uns aos outros. De maneira que a experiência de Obote é uma experiência que está na Bíblia; mas como não temos descrição do que aconteceu em Obote, só temos a pista do nome e a pista da localização depois de Punom e antes de Ije-Abarim, temos que nos valer disso.

        Ao princípio parece mui misterioso, mas basta que você procure no dicionário hebraico para ver o que significa Obote, e imediatamente se abrem os olhos. O que é que Deus está querendo ensinar-nos com estas jornadas depois de Punom? A palavra Obote é uma palavra plural que significa “odres”. Esse é o significado da palavra Obote. Os odres eram uma espécie de vasilha de couro, nos quais se guardavam os líquidos. Por exemplo, se guardava a água, se guardava o vinho, inclusive se guardava o leite; o leite se deixava azedar, tornar-se como Kumis ou iogurte nos odres. Por isso quando aquele Sísera, fugindo chegou à tenda de Jael, que era esposa de Heber ceneo, então lhe pediu água e ela abriu um odre de leite e lhe deu leite, e ele dormiu, e aí foi quando ela o entregou morto aos israelitas. Ela abriu um odre de leite, pois os odres se utilizavam para preservar, e é uma questão muito interessante o que Deus quer nos dizer. Parece como se Ele houvesse dito: Olhem, Punom é o vinho, o remédio, a vida que sara o problema de Zalmona.

O juízo do pecado

        Estivemos vendo o que era Zalmona, esse diagnóstico terrível da condição humana, que qualquer coisa maligna há em nós, e pode aparecer até o dia em que nosso corpo seja ressuscitado à imagem do Senhor. Para podermos vencer a situação que foi descrita em Zalmona, tínhamos que passar por Punom, que é a provisão do Senhor Jesus representado como aquela serpente de bronze enfiada em uma haste, que foi o que Deus fez para libertar Israel das serpentes, e que Jesus disse: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado”. (João 3:14) Todo aquele que olhava a serpente ardente enfiada na haste, vivia e era libertado das serpentes. O Senhor sabe que se olhamos a nós mesmos, que se vamos procurar por nossas próprias forças sair de uma situação terrível, nunca poderemos. O Senhor quer levar-nos a olhar somente ao Senhor Jesus pela fé: olha para Mim, diz o Senhor. Enquanto estamos olhando para outro lado ou buscando em outra parte, não vamos encontrar senão desilusão e desastre; mas o Senhor diz: Olhem para Mim.

        Moisés, que vamos fazer? Temos pecado; pede a Deus que nos ajude; e o Senhor lhe disse: Moisés, faze-te uma serpente ardente enfiada em uma haste, e todo aquele que foi mordido pela serpente e olhar à serpente de bronze enfiada na haste, viverá.[2] E assim o Senhor Jesus Disse: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado”. Isso significa o juízo do pecado, porque a serpente representa o pecado, mas o bronze representa o juízo sobre o pecado. Por isso a serpente era de bronze, e esse juízo se executava enfiando a serpente em uma haste, e esta haste representa a cruz. Por isso a serpente de bronze enfiada na haste representa ao Senhor Jesus Cristo, o Filho do Homem feito maldição e pecado por nós na cruz, para que o que nós não somos, Ele o é para nós. O que nós não podemos, Ele pôde; Ele já julgou a serpente, e por isso o que nós não podemos julgar por nós mesmos, olhando para Ele, contando com Ele, bebendo dEle, crendo nele, confiando nEle, nós podemos em união com Ele, julgar também a serpente. De maneira que a experiência de Punom, foi uma experiência sumamente importante; é uma experiência que nos ensina o quanto  realmente necessitamos todos os dias olhar para o Senhor.

Um odre para preservar a experiência

        Mas fixem-se no que havíamos visto na epístola aos Romanos; como depois que já havia passado Romanos 6, onde se fala que nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo; no entanto, depois de Romanos 6 vinha Romanos 7, onde nos diz que em nossa carne não mora o bem; e logo vem Romanos 8, onde nos diz que o bem está no Espírito; que é a lei do Espírito a que nos livra da lei do pecado e da morte. De maneira, pois, que vemos que ainda que o Senhor proveu tudo em Cristo, se olhamos a Cristo, somos livres. Mas agora a lição que tem que aprender é a de preservar essa vida no Espírito que nos é provida por Cristo. Quando olhamos para o Senhor na cruz, nos é provida a vida, recebemos o perdão e recebemos a vida. Romanos 6 é como se fosse a serpente de bronze no deserto; porque Romanos 5 nos fala do perdão; em contra partida em Romanos 6 nos fala do velho homem, crucificado com Cristo.

        Antes de Romanos 6, desde Romanos 3, Romanos 4 e Romanos 5 nos fala da justificação; em contra partida Romanos 6 nos fala da libertação. Nos primeiros capítulos de Romanos se fala dos pecados e das transgressões, sendo perdoados e limpos pelo sangue; em contra partida em Romanos 6 nos fala da cruz e do pecado e da libertação do pecado; já não só do perdão dos pecados, senão da libertação do pecado. Mas agora Deus tem que conduzir-nos a uma lição um pouco mais avançada. Não é suficiente saber que Cristo foi feito pecado por nós, e nós fomos feito justiça de Deus nEle;[3] não é suficiente que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo;[4] é necessário preservar essa experiência; isso é o que significa um odre.

O odre para reter o vinho

        Um odre é uma provisão de Deus para reter o vinho, reter a água, reter o leite. O propósito do odre é conservar. A esse lugar lhe chamaram “odres”, e até o dia de hoje Obote se chama Wriba, e são lugares onde tem que trazer a água, precisamente em odres. Essa prática se dá até o dia de hoje. Olhem o que significa Obote. Os odres são para preservar, são para que o vinho não se perca. Há uma provisão que Deus nos dá, mas como fazer para que essa provisão que já foi dada na cruz, que não é algo que temos que lutar, senão que já foi feita a nosso favor, como fazer para que a preservemos? Por isso é que depois vem Romanos 8; porque em Romanos 7 temos a experiência de não poder continuar; já em Romanos 6 entendi que o velho homem foi crucificado, mas em romanos 7 outra vez torno a pecar; é quando descubro que o velho homem foi crucificado em Cristo e que a provisão está no Espírito e está na nova vida, e que é o novo homem o que tem a provisão, e não o velho homem. Não importa se eu estou morto com Cristo; se não ando no Espírito, vou experimentar a carne. Para manter-me experimentando a libertação, necessito conservar o que Cristo fez, vivendo no Espírito, no novo homem. Porque o Senhor Jesus falou também dos odres; falou no evangelho dos odres novos e dos odres velhos. E como não vamos ver essas passagens em Obote! Obote fala precisamente de odres, e no Novo Testamento estão as passagens onde o Senhor Jesus falou dos odres. Essas passagens se encontram em Mateus 9, em Marcos 2 e em Lucas 5. Necessitamos ter essas três posições.

        Vamos primeiro a Mateus 9:14-17. Vamos ter marcado esta passagem, porque resulta que estas palavras o Senhor Jesus falou e Mateus as registrou, Marcos as registrou a partir de Pedro e Lucas as registrou também. Mas resulta que ainda que os três dizem o mesmo, há algumas coisas que Mateus diz que Marcos não as diz; há algumas que Marcos diz, que Mateus não diz, algumas que só Lucas diz e que os outros não dizem; de maneira que tendo as três passagens, os três conservam mais completas as palavras, porque cada um conservou uma parte. Quando juntamos os três testemunhos, vemos que entre os três conservam mais do que conserva um só. Vamos ler o que o Senhor Jesus ensinou acerca dos odres. As três passagens estão em Mateus 9:14-17, Marcos 2:18-22 e Lucas 5:33-39. Não vamos ler somente os versículos onde menciona os odres, porque para entender o que quer dizer o Senhor com esta palavra dos odres, temos que ver o contexto; quer dizer, a perícope completa. Uma perícope é uma porção onde se narra um acontecimento de forma completa. Às vezes os capítulos, pela forma em que foram enumerados, coincidem com as perícopes, mas as vezes a perícope está formando parte de um capítulo. Às vezes o número do capítulo separa uma perícope ou um acontecimento ou um acontecimento, ou uma parábola, ou um relato; o divide pela metade. Devido a isso é mais necessário ter em conta a perícope ou seja a unidade de tradição; isso é uma perícope. Aconteceu isto, o começa a contar aqui e termina de contar aqui um acontecimento. É um relato de um acontecimento, que é uma unidade de tradição que se chama perícope. Para entender o sentido dos odres não temos que tomar só o versículo que fala dos odres, senão o contexto da perícope; quer dizer, de todo o relato no qual o Senhor Jesus disse isso e porque ele o disse, o que motivou o Senhor Jesus a dizer isso; porque isso nos ajuda a interpretá-lo melhor do que se o tomamos só.

Patinar em Romanos 7

        O versículo específico dos odres, vamos revisá-lo nos três Evangelhos. “¹⁴Então, chegaram aos pés dele os discípulos de João ,...”. Olhem essa palavra “então”, Quando foi que disse então? Essa palavra “então” quer dizer que esse novo evento começou a acontecer num contexto mais amplo; o contexto mais amplo era uma discussão com a religiosidade dos homens, com os homens religiosos. “... Por que come o vosso mestre fcom os publicanos e pecadores?” (V. 11). Essa era a pergunta; quer dizer, eles estavam querendo agradar a Deus segundo o regime da lei, com a justiça própria da carne. Isso nos diz que estavam patinando em Romanos 7 querendo fazer o bem; só que lhes faltava ser honesto como Paulo e descobrir publicamente que “... não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço”. Eles estavam patinando no que se diagnostica em Romanos 7. Nós jejuamos, nós fazemos o esforço, nós nos levantamos cedo, nós lemos a Bíblia, nós oramos, nós procuramos ser bons, ser melhores que eles; eles não jejuam. Como os teus discípulos não jejuam? Nós sim jejuamos. Ouça, mas você não lê a Bíblia pela manhã? Eu sim, me levanto as cinco e meia, eu sim leio. Você não lê? Você não lê a Bíblia? Você nem dizima? Não, mas você não está em nada meu filhinho!

A justiça própria

        É esse espírito de religiosidade que pensa que é melhor que o outro porque está fazendo alguma coisa religiosa; esse é ao que o Senhor Jesus lhe chamou depois “odre velho”; quer dizer, a justiça da carne. Essa justiça não serve para preservar a justiça de Cristo, porque se aparta da graça. Aquele que pretende justificar-se, como diz em Gálatas, pelas obras da lei, da graça tem caído.[5] Não que o Senhor não lhe dê mais graça, senão que ele se solta da graça, querendo agradar a Deus agora pela sua carne, então trata de cumprir a lei para ser merecedor diante de Deus; ser melhor que o outro. Eu sim jejuo mais; nós sim jejuamos, em contra partida seus discípulos não jejuam. Nós sim lemos a Bíblia de madrugada; você não lê? De maneira que eles tem o espírito que Jesus estava enfrentando. A pergunta era: “... Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores?” Nós não comemos com os publicanos, vosso mestre sim. “¹²Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. ¹³Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”. Porque quando estamos nesse espírito de porque nós sim e vocês não, aí você está na justiça própria, aí está num espírito de crítica; não está na graça. Temos que aprender algo: “¹³Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. ¹⁴Então, chegaram aos pés dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”.

        Às vezes as pessoas espirituais parecem mais mundanas que as religiosas, e isto se deve a que dependem da graça e não de algo fabricado por eles para aparentar santidade. “... Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? ¹⁵E disse-lhe Jesus: Podem por ventura andar triste os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias porém virão em que lhe será tirado o esposo e então jejuarão”. O jejum é com relação a presença de esposo. Se não sentimos que o Senhor está, dizemos: Senhor. Buscamos ao Senhor para sentir-lhe perto; e aí nesse contexto é que o Senhor Diz: “¹⁶Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura”. Vocês querem que meus discípulos, que são chamados a viver o Novo Pacto, vivam como se vivessem no Antigo Pacto, mas “Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. ¹⁷Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam”. Com a palavra “nem” do verso 17, o Senhor quer dizer no contexto que da mesma maneira como lhes estou dando a parábola, diz o Senhor, do pano novo e do pano velho, lhes dou outra parábola no mesmo contexto, dizendo-lhes: “Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.”; e é Mateus o que diz ambos.

        Vamos ver como nos diz Marcos 2:18-22: “¹⁸Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram (aqui acrescentou um pouco mais: “jejuavam” e “foram”; já não foram somente os de João, senão também com os fariseus) e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? ¹⁹E Jesus disse-lhes: Podem por ventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto tem consigo o esposo, não podem jejuar; ²⁰Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. ²¹Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. (Note que em Mateus diz: “Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura”). ²²E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos”. Em Mateus dizia: “... mas deita-se vinho novo em odres novos,...”; quer dizer, assim é que se faz, e assim é que tem que fazer. E continua Mateus: assim se faz. “... mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam”. Segundo Marcos disse: “E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos”. Não só que deitam; não só que assim se acostuma, senão que assim é que deve ser. Mas ainda Lucas lhe acrescenta mais detalhes. Então vamos ter que ler também Lucas para completar os detalhes.

O ambiente de religiosidade

        Leiamos, pois, em Lucas 5: “³⁰E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?” Note que aqui em Lucas não é só por que vosso Mestre, senão também vocês. “³³Disseram-lhe então eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, (Lucas acrescentou o “muitas vezes e fazem orações”; houve mais detalhes em Lucas) como também os do fariseus, mas os teus comem e bebem?” Vemos, pois, que primeiro criticam aos discípulos acerca do Senhor Jesus, e logo criticam ao Senhor Jesus por seus discípulos. Esse era o ambiente de religiosidade. Fixem-se que o Senhor Jesus está se referindo ao pano velho e ao odre velho como o ambiente da religiosidade, o ambiente de justiça própria, o ambiente de querer agradar a Deus segundo a carne. A carne nunca vai poder agradar a Deus.

        Qual era o problema no caso de Zalmona? O problema era o pecado; mas no caso de Obote, não é o pecado, é justiça própria. Eles não estão querendo roubar, matar, fornicar, não; eles estão querendo jejuar, querendo fazer coisas boas, pois não só o pecado é o problema; a justiça própria também é problema. A árvore proibida não é só a árvore do mal, senão do bem e do mal; quer dizer, o bem e o mal estão misturados em uma mesma árvore. Por isso nada de justiça própria, nada do que se faça nesse espírito de comparação, de crítica aos outros. Eu sim faço; o outro não faz; eu sim leio, o outro não lê; eu sim jejuo, o outro não jejua; eu sim medito, o outro não medita; eu sim me comporto bem, o outro não; eu sim evangelizo, o outro não; eu sim faço as coisas como devem ser. Quando é que temos que jejuar? No sábado; jejuamos nos sábados. Ok. Quando é? Ok, jejuamos nas sextas. Isso é confiar na justiça própria , confiar no que se faz; isso não vai deixar que o vinho se conserve; isso não vai te deixar andar no Espírito. No momento em que tratar de confiar no que você é, no que você faz, de comparar-se com outro, nesse momento o vinho do Espírito deixa de fluir e começa a andar segundo a carne. Havendo começado pelo Espírito, agora queres agradar a Deus segundo a carne, a justiça própria.

        Por isso não temos só que aprender a olhar para o Senhor; temos que aprender como conservar a provisão do Senhor. Como? Andando no Espírito é a maneira de conservar; esse é o odre novo. O odre novo é a vida segundo o Espírito. Por isso na oração inicial estamos dizendo ao Senhor: Senhor, Tu é o novo homem.

Vocês recordam o que havia sido dito da santa unção lá no livro de Êxodo? O óleo da santa unção não se podia pôr sobre a carne. O que nasce da carne, ainda que seja bom, não pode ser ungido por Deus, porque é carne. O que nasce da carne, ainda que seja bom, ainda que seja justiça própria, é carne; só o que nasce do Espírito é espírito e é sobre o novo homem, sobre o qual desce a unção. Às vezes nós queremos ser ungidos para ter poder, para ser melhor que os outros, para alcançar um nível de grande reconhecimento, e o Senhor não pode ungir esses motivos. O Senhor não pode ungir um motivo que emana da carne. Sempre detrás da justiça própria e do espírito de comparação e de crítica, está na carne. As vezes procuramos ser santos para ser melhores que os demais, para merecer algo diante dos outros, e isso nos desqualifica, porque  isso ainda é carne.

A santa unção

        O óleo da santa unção não se pode colocar sobre a carne, senão que tem que se colocar sobre o Filho de Deus. Por isso diz que o óleo se derrama sobre a cabeça, e da cabeça é que passa à barba, e até a orla das vestes ; quer dizer, o corpo de Cristo, o novo homem. O corpo de Cristo é o novo homem; quer dizer, quando estamos no Espírito, o que fazemos no Espírito, isso é ungido com a unção da cabeça. A unção da cabeça desce sobre o que em nós é novo; não desce sobre a carne. Não desce para fazer-nos poderosos, para fazer-nos admiráveis diante dos demais, para fazer-nos dignos de reconhecimento e de aplausos; não desce para isso. Alguns querem orar e jejuar para receber poder e para poder fazer milagres e ser famosos; essa motivação é equivocada, essa motivação não pode ser ungida. Por isso nada do que é justiça própria pode conter a verdadeira benção de Deus. A verdadeira provisão e benção de Deus é com o humilde de espírito; ao humilde se dá graça, ao soberbo se olha de longe. Agora, a soberba nem sempre se manifesta em coisas desagradáveis, senão na religião. Na religiosidade se manifesta a soberba. Isso não pode ser ungido. Só o que nasce de um espírito contrito e humilhado, que não tem outra esperança a não ser a graça, só esse pode ser ungido.

        É como o caso daquele fariseu e aquele publicano que vieram à presença do Senhor. O fariseu dizia: Deus, te dou graças porque jejuo duas vezes na semana, em contra partida esse publicano, não; eu sim jejuo, este não jejua; já estou passando ele; sou melhor; dou dízimos de tudo o que ganho; o publicano não deve dar nada de nada. Esse é o espírito de justiça própria! E o que diz o Senhor Jesus? Que o fariseu estava orando consigo mesmo, porque qualquer que toque o Espírito de Deus não pode seguir com isso; imediatamente é envergonhado. O fariseu orava consigo mesmo; quer dizer, que não tocava a Deus. Por não tocá-lo é que podia orar assim. Quando toca a Deus, se freia. Em contra partida o publicano não se atrevia a levantar os olhos; só dizia: sê propício a mim, pecador; quer dizer, propicia para mim, que é um tradução válida também. A confiança do publicano estava na propiciação de Deus; por outro lado a confiança do fariseu estava em sua justiça própria, e se diz que o publicano foi justificado, voltou justificado, mas o outro, não. Recebeu algo de Deus aquele que só confiou em Deus; mas o que confiou em si mesmo e em sua própria bondade, não pôde receber nada.    Irmãos, quando o Senhor nos mostra a condição humana, logo nos mostra que só tem que olhar para o Senhor. Mas, como conservar essa provisão? Havendo começado pelo Espírito, temos que continuar no Espírito; porque se começamos pelo Espírito e queremos aperfeiçoar o espiritual com a justiça própria, da carne, vamos cair da graça. “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” (Gálatas 5:4), diz Paulo.

        Voltando a Lucas 5, vemos que ele tem outros detalhes a mais.  “… mas os teus comem, e bebem”. Esse espírito é como o irmão do filho pródigo de Lucas 15: Pai, nunca me deste nada, como é que a esse que desperdiçou os teus bens, mataste-lhe o bezerro cevado; e a mim que te sirvo toda a vida nem um cabrito me deste. Como que não te dou nem um cabrito? Todas as minhas coisas são tuas. Mas ele estava nesse espírito de religiosidade, que é aborrecível aos olhos do Senhor.

O velho não harmoniza com o novo

        “³⁴E ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?” Olhem que o religioso se torna um desmancha prazer; parece que quer fazer jejuar ao que está de bodas; é um desmancha prazer. Sempre que estamos em religiosidade somos um desmancha prazer; temos um espírito amargo de crítica, não de misericórdia. “³⁵Dias, virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão. ³⁶E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha”. Aqui Lucas chamou parábola; muito bem. Porque nem Mateus nem Marcos haviam dito que era uma parábola, mas Lucas sim, o fez. Dessa muitas palavras que falou o Senhor Jesus, Lucas recordou este detalhe do remendo que não condiz (harmoniza) com o velho, que não haviam recordado nem Mateus nem Marcos. O Senhor Jesus falou muitas coisas, e um recordou um detalhe e outro, mas este de condizer, esse o recordou só Lucas. O remendo tirado do pano novo não condiz com o velho.

        Às vezes nós, por exemplo, temos edificado algo religioso e de repente o Senhor nos mostra algo novo, mas não queremos largar o religioso, senão que queremos repará-lo, fazer um reparo. Sim, isto estava equivocado, então vou corrigir aqui. Mas tem que deixar o que não nasce novo. Toda planta que não nasceu do Pai, o que Ele não semeou, será desarraigado; tem que ser algo totalmente novo agora. Não se pode trazer o que é do velho homem, para tratar de reeducá-lo. O velho homem não se pode reeducar. Temos que viver só no novo homem. Tratamos de conservar a vida de Deus, a provisão de Deus em Cristo, tratando de reeducar o velho homem em vez de viver no novo; vamos ser, pois, grandes hipócritas, mas nada mais conseguiremos, senão um partido de hipócritas; nada mais, puro remendo. O Senhor diz aqui: “… não condiz com o velho.”; quer dizer, não condiz porque está no que está, mas não se pode estar em duas coisas. Às vezes dizemos: Ah! isto do louvor do espírito é lindo, as reuniões pelas casas; vamos introduzir isso em nossa denominação. O que é que está dizendo? Pondo um pedaço de pano novo em um vestido velho.

        Não se trata de salvar as coisas velhas que fizemos. Depois que Abraão andou treze anos feliz pensando que Ismael ia ser o filho, o Senhor lhe disse: Abraão, este não te herdará. Mas eu havia dito: Oxalá que ande diante de Ti; mas não, ele não pode andar diante de Deus. Ismael nasceu da carne; ele não pode andar diante de Deus. É o que eu te darei. Ismael nasceu do esforço que fizeste; mas eu te darei Isaque. E depois nasceu Isaque; e quando estava recém nascido, não parecia tão importante como Ismael.  Ismael já tinha treze anos. Esses remanescentes por aí, que não tem nem pessoa jurídica; em contra partida nós somos uma grande igreja tradicional, e temos um púlpito, pescoço ornado, órgãos de tubos, vidros coloridos, temos história, tradição. Mas esses por aqui que procuram que Deus lhes ajude; esses como que não valem muito. E que fazia Ismael? Menosprezava Isaque; mas Deus pôs no coração de Sara, a mulher que representa o Novo Pacto, dizer ao seu esposo: Este que está zombando de meu filho, não pode herdar com ele. E a Abraão, que tanto amava Isaque seu filho, lhe pareceu grave ter que separar uma coisa da outra; e Deus lhe disse: Abraão, não lhe pareça grave o que sara tem dito. Deixa Agar e a seu filho, porque não herdará o filho da escrava com o filho da livre. Essas duas coisas não harmonizam.

        Em vão vamos tratar de pôr remendo nas coisas que nasceram da carne. Não se trata de restaurar a carne; se trata de edificar o corpo que é o novo homem, nada mais; e por isso só mantendo-nos no Espírito e no novo homem, o vinho novo pode conservar-se no odre novo, mas não o velho. Por isso lhes diz assim: “Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha,...”. Quando o Senhor te guia a compartilhar com os irmãos no Espírito, devemos realmente discernir se as pessoas querem ao Senhor e querem a verdade; porque não tem que jogar pérolas aos porcos, nem as coisas santas aos cãs, abrir os tesouros de Jerusalém para a Babilônia para que mais tarde a Babilônia os leve. Não foi esse o erro cometido por aquele rei Ezequias? Ezequias foi um grande rei de Deus, mas ele não foi cuidadoso, e quando foram visitá-lo, com a desculpa de que estava doente, ele muito cortês, mostrou todos os tesouros aos emissários da Babilônia. Estes ao sabê-lo comunicaram na Babilônia: Há tesouros em Jerusalém, e mais tarde foram roubar os tesouros de Jerusalém; e aqueles vasos sagrados da casa de Deus depois estiveram sendo usados nos banquetes de Nabucodonosor, Evil-merodac e Belssazar e todas aquelas orgias. O que devia ter uso santo, passou a ser usurpado para ter um uso imundo.

        Assim quando as coisas de Deus não são compartilhadas no Espírito, quando simplesmente se quer cumprir com algo religioso ou mostrar um nova modalidade que está se apresentando, e vamos ensinando-a a todo mundo, tentando remendar o que Deus não nos tem mandado, porque as pessoas não estão buscando nem  estão querendo. O que não o quer, não é para o Senhor; e os discípulos lhes diziam: Senhor, porque vai se manifestar a nós e não ao mundo? Porque o que me ama guardará a minha palavra. O que não me ama não guarda a minha palavra. Por isso ele não vai se manifestar ao mundo. Como vai se colocar vinho novo em odres velhos? Ele não vai dar as coisas santas aos cãs; não vá deitar as vossas pérolas aos porcos. O vinho novo em odres novos. Temos que ser prudentes. A quem se compartilha, tem que ser algo dirigido pelo Espírito, preparado pelo Espírito. Não se trata de ir remendar o que o homem fabricou, nem o que fabricamos, que também somos homens. Se trata de estar em Cristo.

Sigamos lendo Lucas 5, pois ele dá outros detalhes a mais. Por exemplo, no versículo 36 diz que o novo não condiz com o velho. Inclusive podem estar juntos na mesma reunião, mas o que está na carne não harmoniza com o que está no Espírito. Às vezes é tão difícil ter uma reunião se alguém a está fazendo na justiça própria e outro procura fazê-la no Espírito; um vai para a direita outro vai para a esquerda, porque o que está na justiça própria já é tarimbado, já sabe o que vai dizer, já faz tudo, não depende de Deus senão do que sabe; já sabe o que tem que fazer, já está acostumado e já faz as coisas. Façamos aqui, ali: mas o que está procurando dar lugar ao Espírito, está sofrendo, mas o outro não entende o que está acontecendo. Estão fazendo as coisas porque sabem fazer e não se está dependendo do Espírito.

        Não harmoniza uma coisa com a outra. Às vezes estamos em uma reunião e algum irmão pode estar no Espírito e outro pode estar na carne e sai com suas coisas, e que sofrimento. E por que causa sofrimento? Porque a pessoa está somente na sua natureza; então não harmoniza, e essa desarmonia se percebe no Espírito. Os que estão no Espírito o percebem; os que estão na carne, não; porque a carne não vê, mas o Espírito sim vê. Não harmoniza com o velho. “³⁷E ninguém (aí está o “e”, é o mesmo, continua falando do mesmo) deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; ³⁸Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão”. Não só se perderão os odres, senão que derramará o vinho. Mas agregou uma frase: “³⁹E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho”.

A lei do Espírito de vida

        Este último verso não havia dito nem Mateus nem Marcos; graças a Deus que Lucas se recordou desse detalhe: o que bebe do velho, o que está acostumado ao velho, parece-lhe que isso é o que tem que ser; sempre procura acomodar tudo no velho; mas se é algo que não pode lidar como sempre tem lidado, então se sente fora do lugar. O que bebe do vinho velho, não pode provar o novo, porque diz que o velho é melhor; mas o Senhor está falando aqui de pano velho e odre velho, pano novo e odre novo. O odre novo é um odre que é flexível; na medida em que o vinho novo começa a fermentar, como o odre é novo, pode adaptar-se ao fermento da vida nova que tem. Por outro lado o odre velho já deu o que podia dar, já está ressecado, e mais já não pode dar. Quando começa a fermentar o vinho novo, não suporta e arrebenta-se. De maneira que por isso, para que o vinho novo não se perca, tem que se pôr em um odre novo, porque o odre novo, quando começa a fermentar o vinho, vai cedendo, se acomoda; quer dizer, ele pode seguir o Espírito. Por outro lado o odre velho não cede.

        Irmãos, Que lição esta de Obote! Os odres. É algo muito importante, é uma coisa que realmente nos ensina, nos faz avançar. Por que aparece Obote depois de Punom? Como uma magnífica provisão de Deus. Mas, quem ia pensar que depois de Romanos 6 ia haver o problema de Romanos 7? Então vem Romanos 8, que é a lei do Espírito de vida. A lei do Espírito de vida em Cristo me livrará; quer dizer, nada da vida espiritual se pode viver de uma maneira religiosa. Já não se trata de melhorar os fariseus, de melhorar os saduceus, de melhorar os grupos; não se trata de fazer melhorar; tem que ser algo totalmente novo, algo totalmente nascido de Deus. Não podemos estar com um pé em uma coisa e o outro em outra; temos que tomar a decisão de onde vamos estar.

        Se andamos no Espírito, o Espírito Santo ungirá o novo homem; mas se queremos fazer coisas religiosas, justiça própria e queremos poder de Deus para ser grandes pregadores, então o Senhor não vai poder ajudar-nos nesse sentido. O Senhor não está interessado em reparar odres velhos; Ele não está interessado nisso. Por isso, observem que Ele escolheu discípulos dentre os pescadores, dos cobradores de impostos, publicanos. Alguém se perguntaria por que não escolheu Nicodemos, por que não escolheu alguns dos fariseus e saduceus? O Senhor escolheu gente que estava disposta a viver totalmente no novo homem, que não tivesse confiança em nenhum sistema nascido do homem. Eu penso que esta lição, a de Obote, temos que aprendê-la. É a lição dos odres, vamos dar graças ao Senhor.

 

 

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[1]                    Ensino à igreja na localidade de Teusaquillo, Bogotá D. C., Colômbia 19 de maio de 2001.

[2]                    Referência a Números 21:6-9

 

[3]                    Referência 2 Coríntios 5:21

 

[4]                    Referência a Romanos 6:6

 

[5]                    Referência a Gálatas 5:4  

 

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