Jornada 37
O
B O T E
“E partiram de Punom, e acamparam-se
em Obote”.
Números 33:43
A pista do nome e localização
Continuaremos, irmãos, com a ajuda do Senhor,
a série sobre O Livro das Jornadas. Estamos chegando hoje a Obote. Diz Números
33:43: “E partiram de Punom, a
acamparam-se em Obote”. Obote é o nome do lugar onde houve esta seguinte
jornada. Cada jornada é uma jornada de avanço em relação às jornadas
anteriores. Certamente, às vezes as jornadas são tão gloriosas como Punom, onde
vemos a graça do Senhor para resolver nossa condição terrível; no entanto, o
Senhor quer nos ensinar a aprofundar nessa experiência, e por isso há uma saída
de Punom, que não é uma saída de Cristo, senão um aprofundamento. Quase se diz
o mesmo em Números 21:10: “Então os
filhos de Israel partiram, e alojaram-se em Obote”. Somente estes dois
versículos nos mencionam a passagem por Obote; não há nenhum outro versículo
onde se mencione Obote, senão em Números 33:43 e 21:10.
De modo que, primeiro: Necessitamos ver
o significado em hebraico da palavra Obote; segundo: Necessitamos ver também a
localização de Obote depois de Punom, no contexto das demais jornadas. O Senhor
deixou essa pista porque essa pista tem sua importância, é porque esta pista é
suficiente, é porque com a pista que Ele nos dá seguramente que chegaremos à
lição; porque Ele não vai dar pistas para deixar-nos às escondidas. Quando Deus
dá uma pista é para que sejamos conduzidos por ela as lições que estão na
Bíblia. Como temos lido na primeira carta aos Coríntios, as coisas que se
escreveram antes, são para nosso ensino e não para nossa confusão. Para nosso
ensino se escreveram e estão escritas para admoestarmos uns aos outros. De
maneira que a experiência de Obote é uma experiência que está na Bíblia; mas
como não temos descrição do que aconteceu em Obote, só temos a pista do nome e
a pista da localização depois de Punom e antes de Ije-Abarim, temos que nos
valer disso.
Ao princípio parece mui misterioso, mas
basta que você procure no dicionário hebraico para ver o que significa Obote, e
imediatamente se abrem os olhos. O que é que Deus está querendo ensinar-nos com
estas jornadas depois de Punom? A palavra Obote é uma palavra plural que
significa “odres”. Esse é o significado da palavra Obote. Os odres eram uma
espécie de vasilha de couro, nos quais se guardavam os líquidos. Por exemplo,
se guardava a água, se guardava o vinho, inclusive se guardava o leite; o leite
se deixava azedar, tornar-se como Kumis
ou iogurte nos odres. Por isso quando aquele Sísera, fugindo chegou à tenda
de Jael, que era esposa de Heber ceneo, então lhe pediu água e ela abriu um
odre de leite e lhe deu leite, e ele dormiu, e aí foi quando ela o entregou
morto aos israelitas. Ela abriu um odre de leite, pois os odres se utilizavam
para preservar, e é uma questão muito interessante o que Deus quer nos dizer. Parece
como se Ele houvesse dito: Olhem, Punom é o vinho, o remédio, a vida que sara o
problema de Zalmona.
O juízo do pecado
Estivemos vendo o que era Zalmona, esse
diagnóstico terrível da condição humana, que qualquer coisa maligna há em nós,
e pode aparecer até o dia em que nosso corpo seja ressuscitado à imagem do
Senhor. Para podermos vencer a situação que foi descrita em Zalmona, tínhamos
que passar por Punom, que é a provisão do Senhor Jesus representado como aquela
serpente de bronze enfiada em uma haste, que foi o que Deus fez para libertar
Israel das serpentes, e que Jesus disse: “E,
como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem
seja levantado”. (João 3:14) Todo aquele que olhava a serpente ardente
enfiada na haste, vivia e era libertado das serpentes. O Senhor sabe que se olhamos
a nós mesmos, que se vamos procurar por nossas próprias forças sair de uma
situação terrível, nunca poderemos. O Senhor quer levar-nos a olhar somente ao
Senhor Jesus pela fé: olha para Mim, diz o Senhor. Enquanto estamos olhando
para outro lado ou buscando em outra parte, não vamos encontrar senão desilusão
e desastre; mas o Senhor diz: Olhem para Mim.
Moisés, que vamos fazer? Temos pecado;
pede a Deus que nos ajude; e o Senhor lhe disse: Moisés, faze-te uma serpente
ardente enfiada em uma haste, e todo aquele que foi mordido pela serpente e
olhar à serpente de bronze enfiada na haste, viverá.[2] E assim
o Senhor Jesus Disse: “E, como Moisés
levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja
levantado”. Isso significa o juízo do pecado, porque a serpente representa o
pecado, mas o bronze representa o juízo sobre o pecado. Por isso a serpente era
de bronze, e esse juízo se executava enfiando a serpente em uma haste, e esta
haste representa a cruz. Por isso a serpente de bronze enfiada na haste
representa ao Senhor Jesus Cristo, o Filho do Homem feito maldição e pecado por
nós na cruz, para que o que nós não somos, Ele o é para nós. O que nós não
podemos, Ele pôde; Ele já julgou a serpente, e por isso o que nós não podemos
julgar por nós mesmos, olhando para Ele, contando com Ele, bebendo dEle, crendo
nele, confiando nEle, nós podemos em união com Ele, julgar também a serpente.
De maneira que a experiência de Punom, foi uma experiência sumamente
importante; é uma experiência que nos ensina o quanto realmente necessitamos todos os dias olhar
para o Senhor.
Um odre para preservar a experiência
Mas fixem-se no que havíamos visto na
epístola aos Romanos; como depois que já havia passado Romanos 6, onde se fala
que nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo; no entanto, depois
de Romanos 6 vinha Romanos 7, onde nos diz que em nossa carne não mora o bem; e
logo vem Romanos 8, onde nos diz que o bem está no Espírito; que é a lei do
Espírito a que nos livra da lei do pecado e da morte. De maneira, pois, que
vemos que ainda que o Senhor proveu tudo em Cristo, se olhamos a Cristo, somos
livres. Mas agora a lição que tem que aprender é a de preservar essa vida no
Espírito que nos é provida por Cristo. Quando olhamos para o Senhor na cruz,
nos é provida a vida, recebemos o perdão e recebemos a vida. Romanos 6 é como
se fosse a serpente de bronze no deserto; porque Romanos 5 nos fala do perdão;
em contra partida em Romanos 6 nos fala do velho homem, crucificado com Cristo.
Antes
de Romanos 6, desde Romanos 3, Romanos 4 e Romanos 5 nos fala da justificação;
em contra partida Romanos 6 nos fala da libertação. Nos primeiros capítulos de
Romanos se fala dos pecados e das transgressões, sendo perdoados e limpos pelo
sangue; em contra partida em Romanos 6 nos fala da cruz e do pecado e da
libertação do pecado; já não só do perdão dos pecados, senão da libertação do
pecado. Mas agora Deus tem que conduzir-nos a uma lição um pouco mais avançada.
Não é suficiente saber que Cristo foi feito pecado por nós, e nós fomos feito
justiça de Deus nEle;[3]
não é suficiente que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo;[4] é
necessário preservar essa experiência; isso é o que significa um odre.
O odre para reter o vinho
Um odre é uma provisão de Deus para
reter o vinho, reter a água, reter o leite. O propósito do odre é conservar. A esse lugar lhe chamaram “odres”,
e até o dia de hoje Obote se chama Wriba, e são lugares onde tem que trazer a
água, precisamente em odres. Essa prática se dá até o dia de hoje. Olhem
o que significa Obote. Os odres são para preservar, são para que o vinho não se
perca. Há uma provisão que Deus nos dá, mas como fazer para que essa provisão
que já foi dada na cruz, que não é algo que temos que lutar, senão que já foi
feita a nosso favor, como fazer para que a preservemos? Por isso é que
depois vem Romanos 8; porque em Romanos 7 temos a experiência de não poder
continuar; já em Romanos 6 entendi que o velho homem foi crucificado, mas em
romanos 7 outra vez torno a pecar; é quando descubro que o velho homem foi
crucificado em Cristo e que a provisão está no Espírito e está na nova vida, e
que é o novo homem o que tem a provisão, e não o velho homem. Não importa se eu
estou morto com Cristo; se não ando no Espírito, vou experimentar a carne. Para
manter-me experimentando a libertação, necessito conservar o que Cristo fez,
vivendo no Espírito, no novo homem. Porque o Senhor Jesus falou também
dos odres; falou no evangelho dos odres novos e dos odres velhos. E como não
vamos ver essas passagens em Obote! Obote fala precisamente de odres, e no Novo
Testamento estão as passagens onde o Senhor Jesus falou dos odres. Essas
passagens se encontram em Mateus 9, em Marcos 2 e em Lucas 5. Necessitamos ter
essas três posições.
Vamos primeiro a Mateus 9:14-17. Vamos
ter marcado esta passagem, porque resulta que estas palavras o Senhor Jesus
falou e Mateus as registrou, Marcos as registrou a partir de Pedro e Lucas as
registrou também. Mas resulta que ainda que os três dizem o mesmo, há algumas
coisas que Mateus diz que Marcos não as diz; há algumas que Marcos diz, que
Mateus não diz, algumas que só Lucas diz e que os outros não dizem; de maneira
que tendo as três passagens, os três conservam mais completas as palavras,
porque cada um conservou uma parte. Quando juntamos os três testemunhos, vemos
que entre os três conservam mais do que conserva um só. Vamos ler o que o
Senhor Jesus ensinou acerca dos odres. As três passagens estão em Mateus
9:14-17, Marcos 2:18-22 e Lucas 5:33-39. Não vamos ler somente os versículos
onde menciona os odres, porque para entender o que quer dizer o Senhor com esta
palavra dos odres, temos que ver o contexto; quer dizer, a perícope completa. Uma
perícope é uma porção onde se narra um acontecimento de forma completa.
Às vezes os capítulos, pela forma em que foram enumerados, coincidem com as
perícopes, mas as vezes a perícope está formando parte de um capítulo. Às vezes
o número do capítulo separa uma perícope ou um acontecimento ou um acontecimento,
ou uma parábola, ou um relato; o divide pela metade. Devido a isso é mais
necessário ter em conta a perícope ou seja a unidade de tradição; isso é uma
perícope. Aconteceu isto, o começa a contar aqui e termina de contar aqui um
acontecimento. É um relato de um acontecimento, que é uma unidade de tradição
que se chama perícope. Para entender o sentido dos odres não temos que tomar só
o versículo que fala dos odres, senão o contexto da perícope; quer dizer, de
todo o relato no qual o Senhor Jesus disse isso e porque ele o disse, o que
motivou o Senhor Jesus a dizer isso; porque isso nos ajuda a interpretá-lo
melhor do que se o tomamos só.
Patinar em Romanos 7
O versículo específico dos odres, vamos
revisá-lo nos três Evangelhos. “¹⁴Então,
chegaram aos pés dele os discípulos de João ,...”. Olhem essa palavra “então”, Quando foi que disse então?
Essa palavra “então” quer dizer que
esse novo evento começou a acontecer num contexto mais amplo; o contexto mais
amplo era uma discussão com a religiosidade dos homens, com os homens
religiosos. “... Por que come o vosso
mestre fcom os publicanos e pecadores?” (V. 11). Essa era a pergunta; quer
dizer, eles estavam querendo agradar a Deus segundo o regime da lei, com a
justiça própria da carne. Isso nos diz que estavam patinando em Romanos 7
querendo fazer o bem; só que lhes faltava ser honesto como Paulo e descobrir
publicamente que “... não faço o bem que
quero, mas o mal que não quero, esse faço”. Eles estavam patinando no que
se diagnostica em Romanos 7. Nós jejuamos, nós fazemos o esforço, nós nos
levantamos cedo, nós lemos a Bíblia, nós oramos, nós procuramos ser bons, ser
melhores que eles; eles não jejuam. Como os teus discípulos não jejuam? Nós sim
jejuamos. Ouça, mas você não lê a Bíblia pela manhã? Eu sim, me levanto as
cinco e meia, eu sim leio. Você não lê? Você não lê a Bíblia? Você nem dizima?
Não, mas você não está em nada meu filhinho!
A justiça própria
É esse espírito de religiosidade que
pensa que é melhor que o outro porque está fazendo alguma coisa religiosa; esse
é ao que o Senhor Jesus lhe chamou depois “odre velho”; quer dizer, a justiça
da carne. Essa justiça não serve para preservar a justiça de Cristo, porque se
aparta da graça. Aquele que pretende justificar-se, como diz em Gálatas, pelas
obras da lei, da graça tem caído.[5]
Não que o Senhor não lhe dê mais graça, senão que ele se solta da graça,
querendo agradar a Deus agora pela sua carne, então trata de cumprir a lei para
ser merecedor diante de Deus; ser melhor que o outro. Eu sim jejuo mais; nós
sim jejuamos, em contra partida seus discípulos não jejuam. Nós sim lemos a
Bíblia de madrugada; você não lê? De maneira que eles tem o espírito que Jesus
estava enfrentando. A pergunta era: “...
Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores?” Nós não comemos
com os publicanos, vosso mestre sim. “¹²Jesus,
porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os
doentes. ¹³Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não
sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao
arrependimento”. Porque quando estamos nesse espírito de
porque nós sim e vocês não, aí você está na justiça própria, aí está num
espírito de crítica; não está na graça. Temos que aprender algo: “¹³Ide, porém, e aprendei o que significa:
Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas
os pecadores ao arrependimento. ¹⁴Então, chegaram aos pés dele os discípulos de
João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus
discípulos não jejuam?”.
Às vezes as pessoas espirituais parecem
mais mundanas que as religiosas, e isto se deve a que dependem da graça e não
de algo fabricado por eles para aparentar santidade. “... Por que jejuamos nós e os fariseus
muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? ¹⁵E disse-lhe Jesus: Podem por
ventura andar triste os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias
porém virão em que lhe será tirado o esposo e então jejuarão”. O
jejum é com relação a presença de esposo. Se não sentimos que o Senhor está,
dizemos: Senhor. Buscamos ao Senhor para sentir-lhe perto; e aí nesse
contexto é que o Senhor Diz: “¹⁶Ninguém
deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a
roupa, e faz-se maior a rotura”. Vocês querem que meus discípulos, que são
chamados a viver o Novo Pacto, vivam como se vivessem no Antigo Pacto,
mas “Ninguém deita remendo de pano novo
em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a
rotura. ¹⁷Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e
entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres
novos, e assim ambos se conservam”. Com a palavra “nem” do verso 17, o Senhor quer dizer no contexto que da mesma
maneira como lhes estou dando a parábola, diz o Senhor, do pano novo e do pano
velho, lhes dou outra parábola no mesmo contexto, dizendo-lhes: “Nem se deita vinho novo em odres velhos;
aliás rompem-se os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas
deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.”; e é
Mateus o que diz ambos.
Vamos ver como nos diz Marcos 2:18-22: “¹⁸Ora, os discípulos de João e os fariseus
jejuavam; e foram (aqui acrescentou um pouco mais: “jejuavam” e “foram”; já
não foram somente os de João, senão também com os fariseus) e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos
de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? ¹⁹E Jesus
disse-lhes: Podem por ventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles
o esposo? Enquanto tem consigo o esposo, não podem jejuar; ²⁰Mas dias virão em
que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. ²¹Ninguém deita
remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o
velho, e a rotura fica maior. (Note que em Mateus diz: “Ninguém deita
remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e
faz-se maior a rotura”). ²²E ninguém
deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e
entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em
odres novos”. Em Mateus dizia: “...
mas deita-se vinho novo em odres novos,...”; quer dizer, assim é que se
faz, e assim é que tem que fazer. E continua Mateus: assim se faz. “... mas deita-se vinho novo em odres novos,
e assim ambos se conservam”. Segundo Marcos disse: “E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo
rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve
ser deitado em odres novos”. Não só que deitam; não só que assim se
acostuma, senão que assim é que deve ser. Mas ainda Lucas lhe acrescenta mais
detalhes. Então vamos ter que ler também Lucas para completar os detalhes.
O ambiente de
religiosidade
Leiamos, pois, em Lucas 5: “³⁰E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus
discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?” Note
que aqui em Lucas não é só por que vosso Mestre, senão também vocês. “³³Disseram-lhe então eles: Por que jejuam
os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, (Lucas acrescentou
o “muitas vezes e fazem orações”;
houve mais detalhes em Lucas) como também
os do fariseus, mas os teus comem e bebem?” Vemos, pois, que primeiro
criticam aos discípulos acerca do Senhor Jesus, e logo criticam ao Senhor Jesus
por seus discípulos. Esse era o ambiente de religiosidade.
Fixem-se que o Senhor Jesus está se referindo ao pano velho e ao odre velho
como o ambiente da religiosidade, o ambiente de justiça própria, o ambiente de
querer agradar a Deus segundo a carne. A carne nunca vai poder agradar a Deus.
Qual era o problema no caso de Zalmona?
O problema era o pecado; mas no caso de Obote, não é o pecado, é justiça
própria. Eles não estão querendo roubar, matar, fornicar, não; eles estão
querendo jejuar, querendo fazer coisas boas, pois não só o pecado é o problema;
a justiça própria também é problema. A árvore proibida não é só a árvore do
mal, senão do bem e do mal; quer dizer, o bem e o mal estão misturados em uma
mesma árvore. Por isso nada de
justiça própria, nada do que se faça nesse espírito de comparação, de crítica
aos outros. Eu sim faço; o outro não faz; eu sim leio, o outro não lê; eu sim
jejuo, o outro não jejua; eu sim medito, o outro não medita; eu sim me comporto
bem, o outro não; eu sim evangelizo, o outro não; eu sim faço as coisas como
devem ser. Quando é que temos que jejuar? No sábado; jejuamos nos sábados. Ok.
Quando é? Ok, jejuamos nas sextas. Isso é confiar na justiça própria , confiar
no que se faz; isso não vai deixar que o vinho se conserve; isso não vai te
deixar andar no Espírito. No momento em que tratar de confiar no que
você é, no que você faz, de comparar-se com outro, nesse momento o vinho do Espírito
deixa de fluir e começa a andar segundo a carne. Havendo começado pelo
Espírito, agora queres agradar a Deus segundo a carne, a justiça própria.
Por isso não temos só que aprender a
olhar para o Senhor; temos que aprender como conservar a provisão do Senhor. Como?
Andando
no Espírito é a maneira de conservar; esse é o odre novo. O odre novo é a vida
segundo o Espírito. Por isso na oração inicial estamos dizendo ao Senhor:
Senhor, Tu é o novo homem.
Vocês
recordam o que havia sido dito da santa unção lá no livro de Êxodo? O óleo da
santa unção não se podia pôr sobre a carne. O que nasce da carne, ainda que
seja bom, não pode ser ungido por Deus, porque é carne. O que nasce da carne,
ainda que seja bom, ainda que seja justiça própria, é carne; só o que nasce do
Espírito é espírito e é sobre o novo homem, sobre o qual desce a unção. Às
vezes nós queremos ser ungidos para ter poder, para ser melhor que os outros,
para alcançar um nível de grande reconhecimento, e o Senhor não pode ungir
esses motivos. O Senhor não pode ungir um motivo que emana da carne. Sempre
detrás da justiça própria e do espírito de comparação e de crítica, está na
carne. As vezes procuramos ser santos para ser melhores que os demais,
para merecer algo diante dos outros, e isso nos desqualifica, porque isso ainda é carne.
A santa unção
O óleo da santa unção não se pode colocar
sobre a carne, senão que tem que se colocar sobre o Filho de Deus. Por isso diz
que o óleo se derrama sobre a cabeça, e da cabeça é que passa à barba, e até a
orla das vestes ; quer dizer, o corpo de Cristo, o novo homem. O corpo de
Cristo é o novo homem; quer dizer, quando estamos no Espírito, o que fazemos no
Espírito, isso é ungido com a unção da cabeça. A unção da cabeça desce sobre o
que em nós é novo; não desce sobre a carne. Não desce para fazer-nos
poderosos, para fazer-nos admiráveis diante dos demais, para fazer-nos dignos
de reconhecimento e de aplausos; não desce para isso. Alguns querem orar e jejuar para
receber poder e para poder fazer milagres e ser famosos; essa motivação é
equivocada, essa motivação não pode ser ungida. Por isso nada do que é
justiça própria pode conter a verdadeira benção de Deus. A verdadeira provisão e benção de
Deus é com o humilde de espírito; ao humilde se dá graça, ao soberbo se olha de
longe. Agora, a soberba nem sempre se manifesta em coisas desagradáveis,
senão na religião. Na religiosidade se manifesta a soberba. Isso não pode
ser ungido. Só o que nasce de um espírito contrito e humilhado, que não tem
outra esperança a não ser a graça, só esse pode ser ungido.
É
como o caso daquele fariseu e aquele publicano que vieram à presença do Senhor.
O fariseu dizia: Deus, te dou graças porque jejuo duas vezes na semana, em
contra partida esse publicano, não; eu sim jejuo, este não jejua; já estou
passando ele; sou melhor; dou dízimos de tudo o que ganho; o publicano não deve
dar nada de nada. Esse é o espírito de justiça própria! E o que diz o Senhor
Jesus? Que o fariseu estava orando consigo mesmo, porque qualquer que toque o
Espírito de Deus não pode seguir com isso; imediatamente é envergonhado. O
fariseu orava consigo mesmo; quer dizer, que não tocava a Deus. Por não tocá-lo
é que podia orar assim. Quando toca a Deus, se freia. Em contra partida o
publicano não se atrevia a levantar os olhos; só dizia: sê propício a mim,
pecador; quer dizer, propicia para mim, que é um tradução válida também. A
confiança do publicano estava na propiciação de Deus; por outro lado a
confiança do fariseu estava em sua justiça própria, e se diz que o publicano
foi justificado, voltou justificado, mas o outro, não. Recebeu algo de Deus
aquele que só confiou em Deus; mas o que confiou em si mesmo e em sua própria
bondade, não pôde receber nada. Irmãos,
quando o Senhor nos mostra a condição humana, logo nos mostra que só tem que
olhar para o Senhor. Mas, como conservar essa provisão? Havendo começado pelo
Espírito, temos que continuar no Espírito; porque se começamos pelo
Espírito e queremos aperfeiçoar o espiritual com a justiça própria, da carne,
vamos cair da graça. “Separados estais de
Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.”
(Gálatas 5:4), diz Paulo.
Voltando a Lucas 5, vemos que ele tem
outros detalhes a mais. “… mas os teus comem, e bebem”. Esse
espírito é como o irmão do filho pródigo de Lucas 15: Pai, nunca me deste nada,
como é que a esse que desperdiçou os teus bens, mataste-lhe o bezerro cevado; e
a mim que te sirvo toda a vida nem um cabrito me deste. Como que não te dou nem um
cabrito? Todas as minhas coisas são tuas. Mas ele estava nesse espírito de
religiosidade, que é aborrecível aos olhos do Senhor.
O velho não harmoniza com o novo
“³⁴E
ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo
está com eles?” Olhem que o religioso se torna um desmancha prazer; parece
que quer fazer jejuar ao que está de bodas; é um desmancha prazer. Sempre que
estamos em religiosidade somos um desmancha prazer; temos um espírito amargo de
crítica, não de misericórdia. “³⁵Dias,
virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias,
jejuarão. ³⁶E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma
roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não
condiz com a velha”. Aqui Lucas chamou parábola; muito bem. Porque nem
Mateus nem Marcos haviam dito que era uma parábola, mas Lucas sim, o fez. Dessa
muitas palavras que falou o Senhor Jesus, Lucas recordou este detalhe do
remendo que não condiz (harmoniza) com o velho, que não haviam recordado nem
Mateus nem Marcos. O Senhor Jesus falou muitas coisas, e um recordou um detalhe
e outro, mas este de condizer, esse o recordou só Lucas. O remendo tirado do
pano novo não condiz com o velho.
Às vezes nós, por exemplo, temos
edificado algo religioso e de repente o Senhor nos mostra algo novo, mas não
queremos largar o religioso, senão que queremos repará-lo, fazer um reparo.
Sim, isto estava equivocado, então vou corrigir aqui. Mas tem que deixar o que não
nasce novo. Toda planta que não nasceu do Pai, o que Ele não semeou, será
desarraigado; tem que ser algo totalmente novo agora. Não se pode trazer o que
é do velho homem, para tratar de reeducá-lo. O velho homem não se pode
reeducar. Temos que viver só no novo homem. Tratamos de conservar a vida de
Deus, a provisão de Deus em Cristo, tratando de reeducar o velho homem em vez
de viver no novo; vamos ser, pois, grandes hipócritas, mas nada mais
conseguiremos, senão um partido de hipócritas; nada mais, puro remendo. O
Senhor diz aqui: “… não condiz com o velho.”; quer dizer, não
condiz porque está no que está, mas não se pode estar em duas coisas. Às vezes
dizemos: Ah! isto do louvor do espírito é lindo, as reuniões pelas casas; vamos
introduzir isso em nossa denominação. O que é que está dizendo? Pondo um pedaço
de pano novo em um vestido velho.
Não se trata de salvar as coisas velhas
que fizemos. Depois que Abraão andou treze anos feliz pensando que Ismael ia
ser o filho, o Senhor lhe disse: Abraão, este não te herdará. Mas eu havia
dito: Oxalá que ande diante de Ti; mas não, ele não pode andar diante de Deus.
Ismael nasceu da carne; ele não pode andar diante de Deus. É o que eu te darei.
Ismael
nasceu do esforço que fizeste; mas eu te darei Isaque. E depois nasceu Isaque;
e quando estava recém nascido, não parecia tão importante como Ismael. Ismael já tinha treze anos. Esses remanescentes
por aí, que não tem nem pessoa jurídica; em contra partida nós somos uma grande
igreja tradicional, e temos um púlpito, pescoço ornado, órgãos de tubos, vidros
coloridos, temos história, tradição. Mas esses por aqui que procuram que Deus
lhes ajude; esses como que não valem muito. E que fazia Ismael?
Menosprezava Isaque; mas Deus pôs no coração de Sara, a mulher que representa o
Novo Pacto, dizer ao seu esposo: Este que está zombando de meu filho, não pode
herdar com ele. E a Abraão, que tanto amava Isaque seu filho, lhe pareceu grave
ter que separar uma coisa da outra; e Deus lhe disse: Abraão, não lhe pareça
grave o que sara tem dito. Deixa Agar e a seu filho, porque não herdará
o filho da escrava com o filho da livre. Essas duas coisas não harmonizam.
Em vão vamos tratar de pôr remendo nas
coisas que nasceram da carne. Não se trata de restaurar a carne; se trata de
edificar o corpo que é o novo homem, nada mais; e por isso só mantendo-nos no Espírito e no novo homem, o vinho novo
pode conservar-se no odre novo, mas não o velho. Por isso lhes diz assim: “Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa
velha,...”. Quando o Senhor te guia a compartilhar com os irmãos no Espírito,
devemos realmente discernir se as pessoas querem ao Senhor e querem a verdade;
porque não tem que jogar pérolas aos porcos, nem as coisas santas aos cãs,
abrir os tesouros de Jerusalém para a Babilônia para que mais tarde a Babilônia
os leve. Não foi esse o erro cometido por aquele rei Ezequias? Ezequias foi um
grande rei de Deus, mas ele não foi cuidadoso, e quando foram visitá-lo, com a
desculpa de que estava doente, ele muito cortês, mostrou todos os tesouros aos
emissários da Babilônia. Estes ao sabê-lo comunicaram na
Babilônia: Há tesouros em Jerusalém, e mais tarde foram roubar os tesouros de
Jerusalém; e aqueles vasos sagrados da casa de Deus depois estiveram sendo
usados nos banquetes de Nabucodonosor, Evil-merodac e Belssazar e todas aquelas
orgias. O que devia ter uso santo, passou a ser usurpado para ter um uso
imundo.
Assim quando as coisas de Deus não são
compartilhadas no Espírito, quando simplesmente se quer cumprir com algo
religioso ou mostrar um nova modalidade que está se apresentando, e vamos
ensinando-a a todo mundo, tentando remendar o que Deus não nos tem mandado,
porque as pessoas não estão buscando nem
estão querendo. O que não o
quer, não é para o Senhor; e os
discípulos lhes diziam: Senhor, porque vai se manifestar a nós e não ao mundo?
Porque o que me ama guardará a minha palavra. O que não me ama não guarda a minha palavra. Por isso ele não vai se manifestar ao mundo. Como vai se colocar vinho
novo em odres velhos? Ele não vai dar as coisas santas aos cãs; não vá deitar
as vossas pérolas aos porcos. O vinho novo em odres novos. Temos que ser
prudentes. A quem se compartilha, tem que ser algo dirigido pelo Espírito,
preparado pelo Espírito. Não se trata de ir remendar o que o homem fabricou,
nem o que fabricamos, que também somos homens. Se trata de estar em Cristo.
Sigamos lendo Lucas 5, pois ele dá outros
detalhes a mais. Por exemplo, no versículo 36 diz que o novo não condiz com o
velho. Inclusive podem estar juntos na mesma reunião, mas o que está na carne
não harmoniza com o que está no Espírito. Às vezes é tão difícil ter
uma reunião se alguém a está fazendo na justiça própria e outro procura fazê-la
no Espírito; um vai para a direita outro vai para a esquerda, porque o que está
na justiça própria já é tarimbado, já sabe o que vai dizer, já faz tudo, não
depende de Deus senão do que sabe; já sabe o que tem que fazer, já está
acostumado e já faz as coisas. Façamos aqui, ali: mas o que está procurando dar
lugar ao Espírito, está sofrendo, mas o outro não entende o que está
acontecendo. Estão fazendo as coisas porque sabem fazer e não se está
dependendo do Espírito.
Não harmoniza uma coisa com a outra. Às
vezes estamos em uma reunião e algum irmão pode estar no Espírito e outro pode
estar na carne e sai com suas coisas, e que sofrimento. E por que causa
sofrimento? Porque a pessoa está somente na sua natureza; então não harmoniza,
e essa desarmonia se percebe no Espírito. Os que estão no Espírito o percebem;
os que estão na carne, não; porque a carne não vê, mas o Espírito sim vê. Não
harmoniza com o velho. “³⁷E ninguém
(aí está o “e”, é o mesmo, continua falando do mesmo) deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá
os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; ³⁸Mas o vinho novo
deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão”. Não só
se perderão os odres, senão que derramará o vinho. Mas agregou uma frase: “³⁹E ninguém tendo bebido o velho quer logo
o novo, porque diz: Melhor é o velho”.
A lei do Espírito de vida
Este último verso não havia dito nem Mateus
nem Marcos; graças a Deus que Lucas se recordou desse detalhe: o que bebe do
velho, o que está acostumado ao velho, parece-lhe que isso é o que tem que ser;
sempre procura acomodar tudo no velho; mas se é algo que não pode lidar como
sempre tem lidado, então se sente fora do lugar. O que bebe do vinho velho, não
pode provar o novo, porque diz que o velho é melhor; mas o Senhor está falando
aqui de pano velho e odre velho, pano novo e odre novo. O odre novo é um odre
que é flexível; na medida em que o vinho novo começa a fermentar, como o odre é
novo, pode adaptar-se ao fermento da vida nova que tem. Por outro lado o odre
velho já deu o que podia dar, já está ressecado, e mais já não pode dar. Quando
começa a fermentar o vinho novo, não suporta e arrebenta-se. De maneira que por
isso, para que o vinho novo não se perca, tem que se pôr em um odre novo,
porque o odre novo, quando começa a fermentar o vinho, vai cedendo, se acomoda;
quer dizer, ele pode seguir o Espírito. Por outro lado o odre velho não cede.
Irmãos,
Que lição esta de Obote! Os odres. É algo muito importante, é uma coisa que
realmente nos ensina, nos faz avançar. Por que aparece Obote depois de Punom?
Como uma magnífica provisão de Deus. Mas, quem ia pensar que depois de Romanos
6 ia haver o problema de Romanos 7? Então vem Romanos 8, que é a lei do
Espírito de vida. A lei do Espírito de vida em Cristo me livrará; quer dizer, nada da
vida espiritual se pode viver de uma maneira religiosa. Já não se trata de
melhorar os fariseus, de melhorar os saduceus, de melhorar os grupos; não se
trata de fazer melhorar; tem que ser algo totalmente novo, algo totalmente
nascido de Deus. Não podemos estar com um pé em uma coisa e o outro em outra;
temos que tomar a decisão de onde vamos estar.
Se andamos no Espírito, o Espírito Santo
ungirá o novo homem; mas se
queremos fazer coisas religiosas, justiça própria e queremos poder de Deus para
ser grandes pregadores, então o Senhor não vai poder ajudar-nos nesse sentido.
O Senhor não está interessado em reparar odres velhos; Ele não está interessado
nisso. Por isso, observem que Ele escolheu discípulos dentre os pescadores,
dos cobradores de impostos, publicanos. Alguém se perguntaria por que
não escolheu Nicodemos, por que não escolheu alguns dos fariseus e saduceus? O
Senhor escolheu gente que estava disposta a viver totalmente no novo homem, que
não tivesse confiança em nenhum sistema nascido do homem. Eu penso que
esta lição, a de Obote, temos que aprendê-la. É a lição dos odres, vamos dar
graças ao Senhor.
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