domingo, 12 de janeiro de 2020

1ª Jornada - RAMESSÉS

Jornada 1
RAMESSÉS 1

“Partiram, pois, de Ramessés no primeiro mês, no dia quinze do primeiro mês; no dia seguinte da páscoa saíram os filhos de Israel com mão poderosa, aos olhos de todos os egípcios”.                Números 33:3
1 Ensino à Igreja na localidade de Teusaquillo, Bogotá D. C., Colombia, América do Sul, em 12 de novembro de 1999.
Ramessés, o mundo de onde saímos 


Continuamos com o livro das jornadas. Hoje vamos nos deter para considerar Ramessés, já que não na experiência. Vamos considerar os quatro primeiros versículos do capítulo 33 do livro de Números, inclusive até a metade do cinco. Estamos então observando as jornadas do povo de Deus, Israel, no deserto, o qual, como víamos na vez passada, se escreveu para nosso ensino, e aconteceram como exemplo para nós, para admoestarmos uns aos outros; de modo que não estamos lendo somente uma história do passado, senão que através da história do passado, estamos lendo a nós mesmos, lendo nossa própria experiência espiritual. Estamos começando esta série, pois este é apenas o segundo capítulo. O primeiro foi uma introdução; hoje nos deteremos na consideração do que é Ramessés, o ponto do qual saíram pela primeira vez; mas para que possamos entender e tirar proveito das
próximas jornadas, que com ajuda do Senhor, devemos considerar, devemos tratar de compreender de uma maneira mais ampla, e não superficial, o que significa haver estado em Ramessés. Às vezes quando não temos consciência do lugar no qual estávamos, então tão pouco temos consciência do que significa sair dali. Vamos ler desde o verso 1 do capítulo 33 de Números.

 “¹Estas são as jornadas dos filhos de Israel, que saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos, sob a direção de Moisés e Arão”.

 Este é o verso chave; este verso vai se repetir constantemente ao longo de todo o caminho. Saíram, saída. Isso é o que quer dizer Êxodo; aqui está referindo-se precisamente ao Êxodo. Ainda que estamos seguindo Números 33 como espinha dorsal, estaremos constantemente voltando aos livros anteriores, porque aqui está fazendo um resumo das coisas que aconteceram.
A palavra chave aqui é SAÍRAM. É importante sair, mas então devemos compreender do que é que estamos saindo. Às vezes não temos consciência suficiente de onde estávamos e, portanto não sabemos por que temos saídas. Saíram daqui, saíram de lá e saíram, sempre estão saindo; para avançar temos que estar sempre saindo. Quando verdadeiramente se avança é quando verdadeiramente se sai. E isso é o que quer dizer Êxodo, saídas.

 A redenção corporativa 

Diz o versículo 1 que “saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos”. Aqui nos mostra o aspecto corporativo da redenção, esta saída é pela redenção; a redenção sempre é corporativa. Desde o princípio temos que aprender a ver a redenção de forma corporativa. Claro que isso se entende melhor depois, em jornadas mais adiantadas; mas a intenção de Deus e os atos divinos redentores são corporativos. Às vezes nós temos tomado a nível pessoal a redenção, a nível pessoal a salvação; mas observem que no princípio a Bíblia apresenta a salvação e a redenção no sentido corporativo; desde o mesmo princípio quando Adão e Eva pecaram e quiseram vestir-se com folhas de figueira porque se sentiram imundos diante de Deus, diz no plural, que Deus os vestiu.

 Deus mesmo proveu um sacrifício para a família e nesse momento a família representava o gênero humano. Logo que o Senhor chama Abraão, lhe diz também em promessa: “... e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra”2, as famílias da terra. Ou seja, que a salvação e a redenção são a intenção de Deus para alcançar as famílias.

Logo um pouco mais adiante quando chega a páscoa, volta a falar também assim de forma colegiada, em forma corporativa “... segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família”. Por isso diz: “... Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa”3. Isso não quer dizer que cada pessoa não deva crer pessoalmente, e que se eu recebo o Senhor, já de “carambola” 4, como se diz, já é salvo meu filho; não ainda; eles devem receber ao Senhor; mas o Senhor fez uma promessa que se nós crermos no Senhor Jesus Cristo, Ele incluirá aos nossos, ainda que cada um deles deva receber de forma pessoal ao Senhor Jesus.  Mas a intenção do Senhor era salvar famílias. Ele  cobriu a ambos, a Adão e a Eva. Ele disse a Abraão: “Em tua semente serão benditas as famílias”. Ele poderia ter dito as almas, mas disse as famílias; e Ele poderia ter dito, coma cada indivíduo um bolo, mas disse, um cordeiro por família; ou seja que Ele sempre está falando no aspecto corporativo. Por isso é que Pedro diz ao varão que trate 5 bem a esposa, para que suas orações não sejam impedidas, porque elas, suas esposas, são coerdeiras da graça; então a graça é coherdada ou herdada colegiadamente; porque o problema do individualismo, é o problema da queda; por isso desde o princípio chama atenção ao aspecto corporativo do povo, do corpo de Cristo, que está tipificado pelo povo de Deus, Israel, aqui nestas jornadas. “Saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos”. Vamos nos deter um pouco mais no aspecto da terra do Egito. Na vez passada víamos um verso, o 8, em Apocalipse 11, onde se fala do sentido espiritual do Egito. Fala de Sodoma e Egito. A cidade onde o Senhor foi crucificado, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito; quer dizer, que debaixo do nome Egito há todo um sentido espiritual. Sair do Egito, significa sair de um sistema de escravidão que representa muitas coisas negativas que nós tínhamos no mundo. Se nós pensamos que tínhamos somente alguns pecadinhos, não estamos realmente entendendo o que significa Ramessés, que é estar debaixo da escravidão.
2 Gênesis 28:14 3 Atos 16:31 4 Expressão signifcando “de bolo, de uma só vez”.

 É certo que a condição do homem não é somente que de vez em quando comete alguns pecadinhos. Temos que entender bem o diagnóstico real da condição humana de todo ser humano em Adão para que possamos verdadeiramente compreender no pleno sentido o que significa sair; ou que não é somente sair da culpa de alguns pecadinhos, ainda que, claro, isso está incluído, mas isso não é tudo. Então saíram sob o comando de Moisés e Arão, ou seja, na direção de Deus. “²E escreveu Moisés as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme ao mandato do SENHOR; e estas são as suas jornadas, segundo as suas saídas”
. Note como se chama, saídas. Podiam-se lhes dizer suas anedotas, suas experiências; mas não, lhe chamou suas saídas,

porque essa é a ênfase, essa é a palavra chave: suas saídas. Constantemente estamos saindo de algo. Observem esta frase tão profunda: “...e estas são as suas jornadas, segundo as suas saídas”. Para que são as jornadas? Para tirar-nos. As jornadas representam isso. Sim, as anedotas de nossa vida diária; todas as coisas que temos que enfrentar cotidianamente, tudo isso está arranjado com as saídas; quer dizer, o que experimentamos em nossa vida como cristão dirigido por Deus. É um ajuda de Deus para nos tirar de um lugar. A outra parte é introduzir-nos N’ela mesmo, na terra rica que mana leite e mel, que representa a plenitude de Cristo.

 A descrição de Ramessés 

“³Partiram, pois, de Ramessés (essa é a primeira estação, a saída inicial) no primeiro mês, no dia quinze do primeiro mês; no dia seguinte da páscoa saíram os filhos de Israel com mão poderosa, aos olhos de todos os Egípcios”.

Aparece ali em Ramessés, quer dizer, dali e de onde eles partem, de Ramessés. Saíram com mão poderosa. Que lindo isso! Para sair necessita da mão poderosa de Deus. O homem pode patinar e patinar em suas forças e não vai sair; para sair necessita da mão poderosa de Deus. Saíram a vista de todos os Egípcios. Isso é muito tremendo; como diz no Salmo 23: “ ⁵ Preparas uma mesa perante mim na presença de meus inimigos,...”.

“ ⁴ Enquanto os egípcios enterravam os que o SENHOR tinha ferido entre eles, a todo primogênito, e havendo o SENHOR executado juízos também contra os seus deuses. ⁵ Partiram, pois, os filhos de Israel de Ramessés,...”.

E paremos aqui, porque o de Sucote vem depois. Vamos nos deter a compreender um pouco o que significa Ramessés. Seria bom voltar então ao livro de Êxodo; e vamos observar por agora, não ler, senão observar de forma panorâmica os primeiros capítulos do livro de Êxodo, que são do 1 ao 12, onde está descrito o que acontecia em Ramessés e o que fez Deus para tirálos de Ramessés. Leiamos os primeiro versos do capítulo 1, e vamos observando a voo de pássaro o conteúdo destes capítulos.

 “ Estes pois são os nomes”. Esse é o título do livro que chamaram Êxodo. Em hebreu se chama: Welh Shemot. Welh , estes são; Shemot: os nomes. Esse é o nome hebreu deste livro que depois se chamou Êxodo. Seu nome original é: Welh Shemot. Estes são os nomes autênticos em hebreu dos livros do Pentateuco: São as primeiras frases do livro. Por exemplo, Gênesis se chama Bereshit que quer dizer, no princípio. Bereshit bara Elohim, no princípio criou Deus, vet hashamayim, aos céus, vet haerets  e a terra. Welh Shemot, ou seja, estes são os nomes. Esse é o nome original do livro de Êxodo em hebreu. “¹Estes pois são os nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa: ²Rúbem, Simeão, Levi, e Judá; ³Issacar, Zebulom, e Benjamim; ⁴ Dã e Naftali, Gade e Aser. ⁵ Todas as almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó, foram setenta almas; José, porém, estava no Egito. ⁶ Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. ⁷ E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. ⁸ E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José; ⁹ O qual disse ao seu povo:...”. As dinastias egípcias tiveram uma interrupção entre a época de José e a época um pouco anterior ao Êxodo, com a invasão dos chamados hicsos, que foram povos que vinham da terra de Canaã e da terra de Edom, da terra dos amalequitas; e esses povos foram tomando o Egito, e foram estabelecendo umas dinastias no Egito de faraós hicsos, chamados de reis-pastores; e foi durante essa época quando os hicsos, que eram da terra de Canaã, estavam como faraós do Egito, foi naquela época quando José teve acesso a ser ministro do Egito; e a família de José também teve proximidade ao faraó hicso; quer dizer, Jacó chegou a ter um lugar privilegiado durante esta dinastia. Mas logo, a partir de Tebas, levantaram-se novas dinastias dos egípcios nativos e aborígenes, e expulsaram a velha dinastia dos hicsos, não sendo favorável a Israel. Devido a esse fato é que diz aqui esta frase: “ ⁸ E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José”; quer dizer, que começaram a governar os antigos egípcios: os camitas. “ ⁹ O qual disse a seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. ¹ ⁰ Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra”. Os egípcios não queriam que os israelitas se fossem, senão mantê-los escravos. Desde aqui vemos que já aparece a situação de escravidão e de opressão no Egito.

 O espírito do anticristo

 “¹¹E puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas. Porque edificaram a Faraó cidadesarmazéns, Pitom e Ramessés”.

Aqui aparece outra palavra descritiva do Egito: moléstia, carga. Pitom significa serpente. Daí é de onde se deriva a palavra pitonisa. Ramessés significa filho do sol, nascido do sol. O trono do faraó Ramessés II tinha também umas grandes serpentes no trono. Para entender um pouco mais o que é Egito, podemos ir por um momento ao livro de Apocalipse, onde observaremos duas passagens a respeito desse assunto. “E Eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres,...” (13:1).

 Este texto completamos com o capítulo 17: “ ⁷ E o anjo me disse: Por que te admiras? Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem sete cabeças e dez chifres. ⁸ A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá”. A que aparece aqui foi realmente uma besta, mas não era a definitiva, não é a final que está por estabelecer agora o seu governo mundial. Era, mas não é a definitiva. A definitiva estava para subir nos tempos de João. Não. Quando Daniel (no capítulo 7 de seu livro) viu quatro bestas, ele estava nos tempos de Babilônia, e viu quatro bestas do seu tempo para adiante.

A primeira besta, Nabucodonosor que era uma besta vista como um leão com asas (os assírios e os caldeus); a segunda besta, o urso que se levantava mais de um lado do que de outro, os medos-persas; a terceira besta, um leopardo com quatro asas, símbolo do império grego, a qual, na morte de Alexandre o grande, dividiram-no seus quatro generais: Seleuco, Ptolomeo, Antioco e Cassandro. Dali sugiram os famosos reis do norte e do sul, os selêucidas, os antiocos e os ptolomeos; e depois veio o império romano, caracterizado pela quarta besta. Da cabeça dessa quarta besta saíram dez chifres, dos quais saiu um chifre blasfemo, que é o governo mundial blasfemo, que é o que estamos a ponto de ver. Mas aí temos que levar em conta que Daniel estava vendo desde Babilônia para frente. Em contrapartida João, em Apocalipse, está nos tempos de Roma olhando para traz e para frente. Por essa razão Daniel não vê senão quatro bestas. Ele vê o império babilônico, o medo-persa, o império grego, e logo vê o império romano que continua até dar lugar ao filho da perdição. Como diz Paulo aos tessalonicenses5: “⁷Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste (aí estava o império romano governando) até que do meio seja tirado; ⁸ Então será revelado o iníquo...”; naquele chifre blasfemo que tinha que surgir dentre os dez chifres da quarta besta, é o império romano. O império romano tinha que sair para que possa aparecer o império final do anticristo. Daniel está vendo desde Babilônia quatro bestas e seu desenvolvimento final; em contrapartida João, não. Seguimos lendo o que diz João em Apocalipse 17:

“ ⁹ Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada”. Claro que a cidade de Roma está assentada sobre os chamados sete montes palatinos; mas cada monte da profecia na Bíblia está representado como que reinos, e ainda o reino de Deus é um grande monte. Logo continua João: “¹ ⁰ E são também sete reis; cinco já caíram e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo”. Quando diz sete reis, a palavra rei não se refere a uma pessoa; porque aí é onde às vezes pode se cometer um erro. Quando em Daniel 7 diz que havia quatro reis, não se referia a quatro pessoas. O rei da Babilônia é um rei, mas Nabucodonosor é o rei da Babilônia, Nabonido é o rei da Babilônia, Belsasar é o rei da Babilônia. O mesmo sucede com os persas: Ciro é o rei da Pérsia, Cambises é o rei da Pérsia, Dario é o rei da Pérsia; o mesmo sucede com a Grécia, no caso de Alexandre o Grande e outros; o mesmo acontece com Roma, Augusto é rei de Roma,
5 2 Tessalonicenses 2:7-8

Tibério, Claudio, Nero, Calígula e muitos mais são reis de Roma. Dizer, por exemplo, Pío XII é o papa, João XXIII é o papa, Paulo VI é o papa; quer dizer, quando diz um reino não se refere a uma pessoa mas, a um reino, a um império, a uma posição que é representada por várias pessoas na história mas que tem o mesmo cargo ou ostentam o mesmo título.

João diz que são sete reis, e que cinco deles já caíram. Note que João está no tempo de Roma e ele olha para traz para cinco grandes impérios anteriores a Roma. Um é, ou seja, Roma, e o outro ainda não veio; quer dizer, esse é o chifre blasfemo, o governo do anticristo, que deve sair de Roma, e que quando vier, é necessário que dure pouco tempo. Sabemos que durarão sete anos a septuagésima semana de Daniel a qual, a segunda metade corresponde ao desolador. “¹¹E a besta que era já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição”.

O sétimo é o que se chamaria de reino dividido que aparece no sonho da grande estátua de Nabucodonosor. O império Romano chega a formar os dez chifres da besta, os dez dedos da estátua, e é o que se chama o reino dividido, quer dizer, a situação atual. A situação atual é o sétimo reino que provem de Roma, que são os chifres que saíram na quarta besta de Daniel 7. Mas dentre esses chifres sai o anticristo.  (Apocalipse 17:13) diz que estes dez reis “Eles têm o mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta” (ao anticristo). O que queria chamar atenção é como João olhava o passado, o presente e o futuro. Cinco deles já caíram; um é, e o outro ainda não veio. Então, qual era o reino nos tempos de João? Roma, império romano. Agora, antes do império romano, João conta cinco impérios. Se retrocedermos, encontramos esses cinco impérios assim: (1) Antes de Roma estava Grécia; (2) antes da Grécia estava Pérsia; (3) antes da Pérsia estava Babilônia; (4) antes da Babilônia esta Assíria; (5) antes da Assíria estava Egito.

De maneira que o Egito é a primeira das cabeças da besta, que representa uma das cabeças do dragão. Notemos que existem as sete cabeças da besta e as sete cabeças do dragão. Também na Bíblia, o dragão têm sete cabeças; só que o dragão é a parte espiritual; o príncipe governador das trevas, que logo tem sua expressão na chamada civilização do império dominante. Por isso aparecem sete cabeças do dragão e sete cabeças da besta, como diz em Efésios 6:12 “...os príncipes das trevas deste século...”. No capítulo 10 de Daniel aparece aquele anjo que veio com a resposta de Deus para Daniel, e que demorou porque foi interrompido pelo príncipe da Pérsia. Esse príncipe da Pérsia era um príncipe demoníaco, e se chamava príncipe da Pérsia. Enquanto operava esse príncipe demoníaco espiritual, esse principado diabólico, qual seria a cabeça do dragão? Seria a quarta. Esse príncipe espiritual da Pérsia, significa que era o império Persa que governava no natural; estava exercendo sua supremacia. Esse príncipe da Pérsia era a expressão do governo espiritual desse principado. Quando o principado da Pérsia caiu na luta em que Miguel ajudou a esse anjo que visitou Daniel, então o império persa também caiu. Mas depois veio o príncipe da Grécia, outro principado rebelde espiritual, príncipe das trevas deste século. Então, o que sucedeu? Surgiu na terra o domínio do império Grego.
De que somos libertados? 

De modo que as cabeças do dragão correspondem com as cabeças das bestas, pois as cabeças do dragão são principados demoníacos que expressam e determinam as chamadas civilizações dos grandes impérios. Temos então, que o Egito era a 6 Apocalipse 12:3 primeira cabeça do dragão e a primeira cabeça da besta. Devemos, pois, entender um pouco o que significa estar no Egito e o que significa sair do Egito. A intenção de Deus através da redenção pelo cordeiro, pelo sangue do cordeiro, pela carne do cordeiro, pelo pão sem levedura, pelas ervas amargas, pela saída, por cruzar o Mar Vermelho, etc., essa saída, esse êxodo, não é só de nossos pecados.

A Palavra do Senhor não nos diz que temos problemas só com nossos pecados; a Palavra do Senhor nos diz que também temos problemas com o pecado. E também a Palavra do Senhor nos diz que temos problemas com o pecador. E não é o mesmo. Os irmãos que desejam aprofundar-se um pouco mais nesse assunto, lhes aconselho ler o capítulo um do livro O Evangelho de Deus de Watchman Nee, onde fala dos pecados, do pecado e do pecador; e também lhes aconselho a ler do mesmo autor o livro A Vida Cristã Normal, onde no primeiro capítulo fala do sangue, no segundo da cruz, e no terceiro do Espírito; porque o  sangue é para nos livrar dos pecados, a cruz nos livra do pecado, e o Espírito, da lei do pecado e da morte na carne.

A condição de Ramessés é uma condição de verdadeira escravidão; e ao mencionar os pecados, se refere as transgressões, o que fizemos mal; o pecador se refere a natureza pecaminosa vendida ao poder do pecado que herdamos de Adão. Isso todo ser humano tem herdado, com exceção do Senhor Jesus. O pecado é algo mais grave que os pecados; mas ao dizer o pecador, não só temos problemas com o que fizemos senão também com o que somos. De maneira que a saída não é só sair da culpa, mas também sair do que somos. Devemos ser livrados do que fizemos e devemos ser livrados do que somos. Mas todavia o problema não tem sido de todo coberto; não encheu a medida da cabeça do dragão e da besta; a primeira cabeça, que é o Egito.

A raiz do pecado, os pecados e os pecadores, originou um sistema, uma “civilização” que se chama o mundo; e a intenção de Deus é também livrar-nos do mundo. A Bíblia fala não só de sermos livrados dos pecados, senão que também do pecado e do velho homem, e da carne, e do eu, e também do mundo. Mas resulta que o mundo, quer dizer, a besta das sete cabeças, as chamadas civilizações, têm príncipes. Assim que também devemos ser livrados do príncipe deste mundo e dos principados e potestades. De maneira que só na palavra Ramessés, está sintetizando o trono da besta em sua primeira cabeça; aparece ali a primeira cabeça do dragão e da besta. Egito está representando o mundo no espiritual maligno, na vez que é a sua expressão natural aqui na terra; e está expressando também o modo de vida do homem natural, do homem caído, do homem vendido ao poder do pecado. Vemos, pois, que Ramessés é realmente uma situação muito complexa.

 Sair de Ramessés não é uma coisa simples; por isso necessita-se da mão Poderosa de Deus. Mas, irmãos, para isso vem o Senhor, para tirar-nos por completo de Ramessés; e por isso temos que estar saindo e saindo e saindo. Saímos de uma coisa e logo de outra, e logo de outra e tudo isso graças à obra do Senhor. Mas é conveniente que observemos nas Escrituras alguns textos que nos ajudem a ver esses diferentes aspectos. Os três primeiros aspectos encontramos em Romanos. Primeiro: Ali encontramos o aspecto dos pecados, que são as transgressões que temos cometido, e que necessitamos ser perdoados pelo sangue. Segundo: o pecado, e terceiro, o aspecto da lei do pecado em nossa carne. Nos primeiros capítulos da carta aos Romanos, Paulo mostra a condição caída do homem. No capítulo três trata do assunto de nossas transgressões. Em Romanos diz: “Bemaventurados aqueles cujas maldades são perdoadas” (4:7). No capítulo 4 segue falando no plural, de iniquidades, transgressões, de pecados. No princípio fala dos pecados, é dizer, as coisas más que nós fizemos. Então, qual é o remédio para sair dos pecados? Ali está em Ramessés. O que é que preparou o Senhor quando Seu povo estava em Ramessés? Preparou a páscoa, e preparou o derramamento do sangue do cordeiro, para que o sangue do cordeiro livrasse o povo de seus pecados. Mas não só havia que ter sangue, tinha também que fazer algo mais. Tinha que comer o cordeiro, quer dizer, tinha que constituir-se com o que é o cordeiro; e esse é um aspecto já não só judicial, jurídico, objetivo, senão um assunto orgânico, um assunto subjetivo. Objetivamente diante de Deus nossos pecados foram pagos pelo Senhor Jesus, Seu sangue nos limpa de todo pecado, e isso foi feito por Ele na cruz; mas agora esse Cordeiro que derramou Seu sangue deve ser comido por mim. Eu devo alimentar-me com esse Cordeiro. Agora eu devo constituir meu ser com esse Cordeiro, não com a comida do Egito, mas com esse Cordeiro. Antes eu estava constituído com o que produzia o Egito, e eu vivia no Egito, e eu vivia para o Egito, e vivia fazendo tijolos para Faraó. Era seguir o sistema da besta e do dragão, no mundo.

Egito e o mundo

 A gente vivia para o mundo. Em que se ocupava a gente? Em fazer túmulos, em fazer pirâmides. As pirâmides eram túmulos. Como começa Gênesis? Gênesis começa assim: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Que fabuloso começo o de Gênesis! Contudo observem como termina Gênesis:
“² ⁵ E José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente vos visitará Deus, e fareis transportar os meus ossos daqui. ² ⁶ E morreu José da idade de cento e dez anos, e o embalsamaram e o puseram num caixão no Egito” (50:25-26).

Termina com ossos mumificados em um caixão no Egito. Tudo começou muito bonito. Mas notemos agora como vai começar Êxodo. Gênesis terminou com morte, com os ossos de José, mas ele lhes pediu que não deixassem seus ossos nesse caixão no Egito, senão que os levassem e os enterrassem na terra prometida com seus pais, porque ele esperava a ressurreição. Gênesis termina de forma terrível: Ossos, múmias e caixão. Hoje em dia isso é comum: caveiras, cruzes invertidas, cor preta, revólveres e rosas, quer dizer, morte. Esse é o mundo; esse é o Egito. Egito é uma condição que representa o que nós temos feito, o que nós somos e ao que servimos neste mundo e quem se assenhoreia ao fazer isto.

A Palavra do Senhor fala de um sair de Ramessés através da páscoa; e logo haverá várias etapas. Primeiro tinha que pôr-se de baixo do sangue; segundo, tinha que comer o cordeiro com ervas amargas, com pressa, não deixar nada para amanhã; e logo tinha que sair e tinha que despojar o Egito; logo tinha que fazer certas voltas que vamos ver depois, e cruzar o Mar Vermelho. São coisinhas que se fizeram depois; mas a primeira era o sangue, tratar com os pecados.

 A preparação do Êxodo

 Estamos vendo os doze primeiros capítulos de Êxodo, que é Ramessés. Aí aparece a situação da escravidão. Como eram as crianças hebreias condenadas à morte. Se nascesse um bebê varão tinham que jogá-lo aos crocodilos, animais que eram adorados pelos egípcios no Nilo. Ali foi quando aquelas parteiras viram aquele menino bonito e tiveram cuidado dele; levaram-no à mãe, e logo Faraó queria matá-lo; e o Senhor o guardou através de sua mãe, e depois através da própria filha de Faraó. Como Deus começa a preparar Moisés na mesma corte de Faraó, com as estratégias militares que eles treinavam no Sinai. Os grandes herdeiros e os grandes príncipes eram militares, e eles tinham que treinar nessa parte do deserto. E sabem onde treinavam os midianitas? Sabem qual era o terreno dos midianitas? O outro lado do Sinai.
 E justamente Deus teve quarenta anos com Moisés deste lado do Sinai e quarenta anos do outro lado, treinando-lhe de ponta a ponta no Sinai, para poder conduzir ao povo, porque Ele os introduziria em algo que não conheciam. Deus treinou Moisés quarenta anos no Egito; cresceu com toda sabedoria dos egípcios, conhecia a forma de governo de Faraó, conhecia o estilo militar, porque os príncipes tinham que ser treinados; e o treinamento era lá.
E logo quando fugiu matando um egípcio, a onde lhe levou o Senhor? A Midiã, que era exatamente o outro lado daquela península do Sinai, ali onde estavam Edom e Midiã; e ali seu sogro Jetro (Reuel) era sacerdote de Midiã; e os midianitas procediam de Abraão. De maneira, pois, que Moisés herdou a tradição midianita, a tradição egípcia e esteve também outros quarenta anos pastoreando o gado, as ovelhas, de Jetro seu sogro justamente nessa região aonde ia depois pastorear as ovelhas do Senhor. Ele o treinou quarenta anos pastoreando outras ovelhas. Oh!Deus faz as coisas muito bem! Deus fez umas coisas tremendas com Moisés; e isso é o que aparece aqui nestes primeiros capítulos.
 Então aparece Deus, e diz: Eis que tenho visto a opressão do meu povo e venho livrá-lo. E aí é quando Deus envia Moisés.
Moisés não quer ir, e diz: Eu sou gago. Antes Moisés era muito voluntarioso, e depois desse treinamento, agora para ir tinham que empurrá-lo; mas o Senhor o empurrou, lhe deu Arão para que o ajudasse. Se apresentam diante da corte de Faraó, vem as pragas, as quais eram o exagero de coisas naturais que davam-se no Egito. No Egito davam-se essas rãs, davam-se esses piolhos, davam-se neblinas, aconteciam coisas num nível normal. Até hoje acontecem; mas davam-se de uma maneira benéfica, de tal maneira que os egípcios tinham esses animais como deuses.
 Então o Senhor, ao exagerar lhes, quis dizer-lhe: Observem, estes são vossos deuses. Ah, vocês amam as rãs, pois as tenham. Ia-lhes mostrando o verdadeiro caráter de seus deuses, e fazendo juízo em seus deuses. Sabem quem também era tido por deus? O mesmo faraó. E o mesmo herdeiro de faraó era quase como um faraó, pois quase chegava a governar enquanto vivia seu pai, quando estava ficando velho. Era normal que o faraó pusesse seu filho adiante nas procissões e que fosse cedendo pouco a pouco o governo, até que depois ficava governando o sucessor, e era adorado como deus, era tido como filho do sol, e isso é precisamente o que quer dizer Ramessés, nascido de Rá, filho do sol. Rá se chamava o sol, e o sol era considerado uma divindade.

Então, o que significa Egito? Uma condição de escravidão terrível em nossa vida pessoal e em nossa vida social. Por isso os israelitas que tem sido treinados com o livro de Êxodo e outros livros, apoiam a esquerda. Quando eles ouvem a palavra redenção, a relacionam com libertação no sentido político; mas sim, eles não se põe por servo de ninguém. Eles emprestam dinheiro, são os que mandam e os que governam e não vão submeter-se por servo de ninguém; porque desde o princípio foram treinados para ser libertados disso, “escravidão pessoal, social e política”.
 Mas no sentido espiritual (real) isto é todavia mais profundo; porque pode-se ser libertado de um sistema político capitalista e sair a um socialista e continuar mais acorrentado do que estava antes. Porque o verdadeiro problema não é só o sistema; o verdadeiro problema é a natureza humana. É o egoísmo, e é o pecado, não só individual, mas também estrutural. Por isso é que eu quis que nos detivéssemos só em Ramessés no dia de hoje, a fim de que víssemos tudo que está implicado debaixo dessa única palavra: Ramessés.

O pecado, os pecados e a lei do pecado 

Ramessés e Pitom, o filho do sol e a serpente, são as duas cidades que os israelitas foram obrigados a construir; e eram tremendamente oprimidos, como lemos nestes primeiros capítulos de Êxodo. Isso representa não só a opressão de satanás, senão também a opressão de nossos próprios pecados, de nosso pecado, que é a natureza pecaminosa como diz em Efésios 2:3b, que “...e éramos por natureza filhos da ira...”, vendidos ao poder do pecado. Não só fazemos coisas más, somos maus. Não só devemos ser livrados da consequência do que fizemos, senão que também devemos ser livrados do que somos.
 Nos primeiros capítulos de Romanos aparece o tratamento dos pecados. Em 4:7 diz: “Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são encobertos”. Note que aparece no plural. Mas logo o capítulo 6 diz outra coisa; não fala só dos pecados, senão do velho homem. Lemos no versículo 6: “ ⁶ Sabendo isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado”. Agora já não se fala em plural, mas no singular: o pecado. “ ⁷ Porque aquele que está morto está justificado do pecado”. Aqui se fala de ser livrados do pecado e de ser servos da justiça. Isso no capítulo 6. Já quando chegamos ao 7, aí descobrimos outro problema. Não só os pecados, essas coisas más que temos feito. Não só o pecado, a natureza pecaminosa que faz com que cometamos pecados. Agora se fala da lei do pecado e da morte em nossa carne. Isso é muito importante; e todos os irmãos devem entender isso. Às vezes um irmão novo, que não entende isto, que não entende a complexidade do que é Ramessés, do que significa Egito, a carne, o mundo, a opressão, essa pessoa às vezes pode pensar: Bem, eu agora estou seguindo a Cristo, porque eu não era tão mau, eu sempre cri em Deus; claro, no catolicismo, mas sempre fui bonzinho, e por isso agora sou cristão. Às vezes pensamos isso. E de repente em você mesmo ou a algum outro irmão “sai a unha da carne”. Ai, eu não pensava que isso podia acontecer entre irmãos. Isso se deve todavia a não compreender o verdadeiro problema; contudo está pensando que o problema era só no mundo. No mundo éramos mais ou menos bonzinhos, não tão maus como os outros, e se fazemos algo e surgem alguns probleminhas, pedimos pois, perdão ao Senhor e Ele nos perdoa alguns pecadinhos. Não eram tão graves como os de Pablo Escobar. Pensamos que esse era o problema e que agora Deus nos perdoou, e assim se resolveu o problema.
 E outra vez, manda outra pedrada, e outra vez... E diz: Deus meu, será que realmente me converti a Cristo? Sim, se converteu; o que acontece é que não sabia que o problema não era só os pecadinhos. Desde Romanos 5, a Bíblia ensina que temos herdado uma condição pecaminosa; quer dizer, não é que somos bonzinhos, que de vez em quando fazemos alguma travessura.

Não. A Bíblia declara que somos maus de nascimento. Por exemplo, leiamos em Romanos 5:19: “Porque, como pela desobediência de um só homem, (quantos? Este é Adão, o primeiro; é o pecado de Adão) muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos”.  É o pecado de Adão não o seu; o pecado de Adão te fez (constituiu) pecador. Que quer dizer isso? Quando a natureza humana na pessoa do primeiro homem e da primeira mulher cede em vida ao poder do pecado, esse poder adquiriu domínio sobre a natureza humana; agora caída. Quando o homem se multiplicou no estado de caído todos os descendentes herdaram a condição caída da natureza humana, agora escravizada ao poder do pecado. Não é que você, quando cometeste o primeiro pecado, aí começou a ser pecador, não. Não é assim. Antes de cometer o primeiro pecado, já era um pecador. “... E em pecado me concebeu minha mãe”, diz a Escritura. Cada ser humano que nasce, é um pecador que nasce. Basta a primeira oportunidade, e aí vai mostrar o que era. Não é que quando cometeu o primeiro pecado, virou pecador, não. Cometeu o primeiro pecado para demonstrar que havia nascido pecador.
Uma libertação completa 

A Palavra do Senhor diz: “... todos nós também...éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”7. Uma coisa adquirida por natureza é mais grave que uma coisa cometida por casualidade. Alguém pode dizer: Bem, eu sou bom, mas, claro, cometi uma falta; mas isso é uma falta, e não tem nada a ver comigo. Isso foi um ação isolada, mas eu posso seguir sendo perfeito. Isso foi precisamente o que teve que demonstrar o Senhor Jesus ao apóstolo Pedro. “... Ainda que seja mister morrer contigo, não te negarei...”
7 Efésios 2:3   

 “³³Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei. ³ ⁴ Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás”8. Pedro não sabia o que era ser escravo de uma condição pecaminosa. O pecado é algo mais grave. Isso representa também Ramessés; essa escravidão, não só coisas que temos feito. Logo quando queres seguir ao Senhor, é quando mais descobres que mau és. Bem, eu pensava que era bom, mas agora quero seguir ao Senhor, observem o curioso que eu sou, preguiçoso, egoísta, também avarento, orgulhoso, amargo. Isso não é coisa da sogra, não é por culpa da sogra. Ah, se não tivesse sogra, eu seria o homem mais afortunado do mundo. Não, não, não é assim. Pobre sogra com esse genro. Essas coisas estão em todo ser humano.

 O problema do homem não é só que de vez em quando faz coisas más, senão que é mau por natureza. Jesus disse: “... como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? (Mateus 12:34) O problema é que nascemos maus; nascemos em uma condição de maldade. O mal não está somente fora. Não é como dizia Juan Jacobo Rousseau, que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. O estranho é como se corrompeu a sociedade com gente tão boa. Não, o homem não nasce bom; o homem nasce mau, e por isso a sociedade é também má. É injusto. As vezes a constituição é até bonita, mas cumpri-la, é que não fica bem. Não é verdade? Que é, pois, estar escravo em Ramessés? Que é sair de Ramessés? Tem que entender primeiro o que é Ramessés, e ver para onde aponta a libertação do Senhor. O Senhor não só quer perdoar-nos do que fizemos; o Senhor quer livrar-nos do                                 8 Mateus 26:33-34 
que somos e nos fazer de novo, fazer de nós novas criaturas, porque a velha não pode herdar. O velho que temos sido na carne, é carne, e a carne não pode herdar. Não se pode herdar na carne. Alguns pensam que tem que educar um pouco ao homem, como dizem por aí alguns provérbios, do tipo: Educa a criança, e não haverá necessidade de corrigir ao adulto. Isso é mentira, pois esse menino educado vai ser um pecador muito refinado, muito astuto. Vai ser um pecador disfarçado, mas ele não vai mudar. Tem que nascer de novo; tem que ser constituído com o Cordeiro uma nova nação, novo nascimento, uma nova criatura; uma nova constituição.

 ...Assim pela obediência de um só homem muitos serão feitos (constituídos) justos”. Note que a palavra é constituição. Pela desobediência de Adão somos pecadores por constituição, e pela obediência de Cristo, somos justos por constituição. O que te faz justo é receber pela fé a Cristo, é alimentar-se do Cordeiro. Não é algo que você tenha, que você possa. Se você está esperando algum dia ser bom, vai ficar esperando. Não, nunca poderá ser bom; o único bom é o Senhor Jesus, e Ele nos é dado por graça. Sempre haverá em nós coisas desagradáveis, coisas más. Sempre estaremos lutando contra isso até que Cristo prevaleça em nós, até que saíamos completamente, não só do que fizemos, senão do que somos; e não só do que somos, senão também do sistema, do mundo; e não só do mundo visível, senão também do invisível. Tem que ser uma libertação completa.
Devemos ser livrados da culpa dos pecados, mas devemos também ser livrados do pecado. Em Romanos 7 nos fala da lei do pecado e da carne em nossos membros. Quer dizer que nossos membros estão programados sob uma lei de natureza pecaminosa para pecar e para morrer. Assim é que se chama isso. Romanos 7 nos diz com toda clareza.
“¹ ⁴ Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado”. Amar a Deus sobre todas as coisas é espiritual, “mas eu”, esse é o problema. A lei é muito boa, a constituição pode ser magnífica, mas eu, esse é o problema. O problema sou eu. “... mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. ¹ ⁵ Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço”. Vocês creem que os que se casam, casam-se para brigar? Claro que não. Os que se casam pensam outra coisa; mas quando estão casados, veem os problemas, e dizem: Que nos aconteceu? Eu não sabia com quem havia me casado. Mas devia ter sabido. “Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. ¹ ⁶ E, se faço o que não quero, consinto com a Lei, que é boa”.  Eu não quero; ainda que faça, não quero fazer. O faço. “¹ ⁷ De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim”. O pecado que mora em mim, no singular, me faz pecar. Não é o pecado na sogra, nem no presidente Pastrana.  É em mim. “¹ ⁸ Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem”. Graças a Deus que Paulo era sincero, pois aqui está falando São Paulo na Bíblia, e está falando inspirado pelo Espírito Santo, na primeira pessoa. Ele mesmo não se exclui. Talvez quando você é novo na fé não sabe isto, mas vão passar uns meses, um ano, dois anos, e vai dizer o mesmo que Paulo: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”. Mas, e eu com isto? Sim, exatamente, isso Deus o sabe. Agora você está saindo de Ramessés, e para isso veio o Senhor. Você não sabia que isso era assim. A Ele não pegamos de surpresa; Ele sim, sabia. Éramos nós que não sabíamos. Não sabíamos que estávamos fazendo tijolos em Ramessés e em Pitom.
“¹ ⁹ Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. ² ⁰ Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim”. Outra vez pecado no singular. Já não são os pecados que cometo, senão o pecado que mora em mim. “²¹Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo”.                                                                 Agora temos encontrado uma palavra grave, uma lei; da natureza caída. Como a lei da gravidade, a lei do pecado e da morte operando em todo filho de Adão e Eva. Uma lei. Já não é um mandamento exterior, não; é um mandamento da natureza herdada. “²²Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; ²³Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros”. Me prende, quem é preso? A minha alma. O poder de minha alma não é suficiente para vencer o poder do pecado. Necessitamos ser livrados, já não por meio de nossa própria força e poder, senão com mão poderosa. Com mão poderosa na presença dos egípcios. Ali no meio da tentação, no meio da impureza, ser puro; no meio da debilidade, ser forte; no meio da avareza, ser generoso etc. Diante dos egípcios com mão poderosa pelo Senhor, por haver comido o cordeiro provido por Deus. Porque sozinhos não temos de onde tirar, senão pecado.

“² ⁴ Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”

Até aqui havia tratado de livrar-me, mas querendo fazer o bem, não posso, porque o mal está em mim, que não faço o que quero, senão o que não quero. Quero ser generoso, mas sou egoísta; quero ser puro, mas sou impuro; quero ser diligente, mas sou negligente. Que acontece comigo? Acontece algo mal; será que eu não sirvo para ser cristão? Isso é para outro? Não; é para você, é para nós. “Miserável homem que sou! Quem me livrará?...” Até aqui era: como me livrarei disto? Faria isto, faria aquilo para livrar-se. Assim é, quando um é novo no Senhor; faz muitas coisas querendo livrar-se; e quanto mais faz, menos pode livrar-se. É como quanto mais esperneia na areia movediça, mais se enterra. Então já não pergunta, como me livrarei? Já é outro, já não sou eu. Eu já fiz todo o possível e nada, não pude. Não, isto não é para mim. Sim é para mim, mas não pelo meu próprio esforço, senão por meio do Cordeiro. Ele é minha páscoa, esta é minha saída. “² ⁵ Dou graças a Deus por Jesus cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne a lei do pecado”. São Paulo com a carne serve a lei do pecado. São Paulo, São Pedro, qualquer santo com a sua carne só serve ao pecado. Logo nos adiantamos um pouco no capítulo 8, assim: “³Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. Até aqui havia sido eu. Agora é Deus, já não sou eu. Antes era por meio do que seria; por meio da riqueza, por meio das leis de êxito, por meio de um monte de forças. Você vai e encontra
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uma quantidade de livrarias sobre estes temas. Mas aqui diz que veio Deus. “Eis que desci porque tenho visto a opressão de Meu povo”. Eu desci para livrá-lo. Jesus veio e venceu o pecado em Sua própria carne. Ele veio em carne, como a nossa, mas Ele não se deixou vencer pelo pecado. Em Cristo não houve pecado. Ele venceu o pecado em Sua carne. Ele o fez, para que? Para agora nos dar a comer de Sua carne, para alimentar-nos de Sua carne, e adquirirmos o que não temos em nós mesmo e então temos Nele. “ ⁴ Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. ⁵ Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito”. Agora observem o versículo 2, que é o que nos livra da lei do pecado: “²Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte”. O que nos livra da lei do pecado na carne? Somente a lei do Espírito. Não é algo que a carne possa fazer. Não podemos mudar a nós mesmos, mas fomos postos em Cristo, e Cristo foi posto em nós. Seu sangue nos limpou, Sua cruz nos crucificou, Sua ressurreição nos ressuscitou, Seu Espírito nos faz espiritual, nos faz nova criatura e flui em nós, dando-nos em tudo o presente de sermos uma nova criatura que não éramos. Agora não é pelo nosso esforço, mas é receber pela fé o Espírito.

 Podemos estar no mais profundo, mas o sangue nos limpa, e o Espírito nos impulsiona e proclamamos com fé o que ele nos tem feito, o que Ele é para nós; e começamos a ser novo. Na cara dos egípcios Seu sangue nos limpou e o Espírito nos constituiu em novas criaturas, e nos livrou em uma saída.

Aqui temos visto estes aspectos iniciais do que significa Ramessés, capital do que antes era o reino faraônico; mas no tempo de Ramessés, foi em Ramessés onde o faraó estabeleceu seu trono, seu governo, seu palácio de veraneio, e ali era onde ele estava. Agora observemos outro aspecto. Consideremos uma passagem em Gálatas 1:4: “O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai”. De maneira que há outra coisa de que devemos ser livrados; não somente dos pecados, não somente do que fizemos e não somente do que somos; senão também que o Senhor se entregou a Si mesmo. Diz: Se deu a Si mesmo por nossos pecados para livrar-nos não somente de nossos pecados senão do presente século mau; ou seja, esta libertação é também do presente século. Nós devemos compreender do que estamos saindo. Não é somente de ser perdoado dos pecados, não. O Senhor nos livrou também do presente século. Este século tem dois aspectos: um espiritual e um natural. Em Gálatas 6, diz o seguinte: “¹²Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. ¹³Porque nem ainda esses mesmos que se circundam guardam a lei, mas querem que vos circundeis, para se gloriarem na vossa carne. ¹ ⁴ Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.

 O mundo está crucificado para mim, não somente os pecados, não somente o velho homem, senão também o presente século mau, o mundo; o mundo está crucificado para mim, e
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também eu sou crucificado. Na cruz de Cristo não só foi crucificado Cristo; eu também fui crucificado. Quando eu me uno a Cristo e ando com Ele na cruz, sou livre de mim mesmo e sou livre do mundo e o mundo já não conta comigo para o que é seu. Se, todavia o mundo pode utilizar-nos para o que é seu, não terminamos de sair do mundo. Aqui se trata de ser crucificado para o mundo e o mundo ser crucificado. O que quer dizer o mundo ser crucificado? Que eu já não tenho esperança no mundo, que eu já não conto com nada do mundo, o mundo não tem nada para me oferecer; sou enviado ao mundo, mas não sou do mundo, estou no mundo para tirar do mundo, mas não para servir ao mundo, porque não só o mundo está crucificado para mim, eu estou crucificado para o mundo. O que quer dizer ser crucificado para o mundo? O mundo já não pode contar comigo para suas coisas, o mundo já não conta comigo. Então Ramessés no Egito é uma cabeça da besta e uma cabeça do dragão, porque detrás do mundo natural estão os governadores deste mundo; é o príncipe deste mundo, e também somos livrados do príncipe e das potestades e principados e da ata de decreto contraria que eles utilizam acusando-nos diante de Deus. De tudo isso somos livrados através de Cristo. Estamos vendo um panorama de quantas coisas há em Ramessés, de quantas coisas o Senhor no livra. Sair de Ramessés é muita coisa, significa muito. De maneira que seja esta abordagem um panorama para ver o que é Ramessés e o que é sair de Ramessés.

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